É interessante observar a dinâmica da "desertificação" política que se estabelece na Madeira. O PSD é frequentemente apontado como o grande "sugador" de talentos e votos dos partidos da oposição, levando-os a uma menor representatividade. No entanto, o seu próprio argumento aponta para um fenómeno recíproco, evidenciado em casos específicos como o de Santa Cruz, onde a lógica parece inverter-se, com a "oposição" a "desertificar" o PSD.
Muitos políticos que iniciaram as suas carreiras em partidos mais pequenos ou de oposição acabaram por transitar para o PSD, não gosta que se diga, mas existem muitos, seduzidos pela maior probabilidade de acesso a cargos de poder, influência e visibilidade. Esta migração retira quadros valiosos a partidos que já têm uma base mais frágil.
O PSD, pela sua natureza de partido de "quadros" e pela sua posição central no espectro político, consegue muitas vezes incorporar ideias e propostas de outros partidos, retirando-lhes alguma da sua singularidade e razão de ser. Chumba, reescreve e alicia.
A sua dimensão e a sua capacidade de mobilização de eleitorado, aliadas a uma cobertura mediática maior, tendem a dificultar o crescimento e a afirmação de partidos mais pequenos, que ficam muitas vezes confinados a nichos eleitorais ou a um papel de mera "fiscalização".
O exemplo de Santa Cruz ilustra de forma paradigmática como esta dinâmica pode ser invertida, quando a oposição consegue cimentar o seu poder local. Em Santa Cruz, o JPP, com uma forte implantação local, conseguiu não só conquistar a autarquia como também consolidar a sua posição ao longo dos anos. Neste cenário, assistimos a uma "desertificação" do PSD por parte do JPP, basta ver a dificuldade em arranjar um candidato em Santa Cruz quando já namoravam a candidata do JPP... o tal partido que costumam rebaixar.
A consistência e o sucesso da governação do JPP levaram a uma perda significativa de apoio e eleitorado do PSD nesta autarquia. Muitas pessoas que tradicionalmente votavam no PSD, ou que eram simpatizantes, viram no JPP uma alternativa eficaz e com resultados visíveis. No entanto, isto varia de eleição para eleição.
Com o poder solidamente nas mãos do JPP, o PSD local enfrenta uma enorme dificuldade em atrair e reter quadros de valor, apesar da dimensão do concelho. Carpideiras há muitas, candidatos não. A falta de perspetiva de poder e de acesso a cargos diminui drasticamente, tornando o partido menos apelativo para novas figuras.
O paralelismo é claro, a capacidade de "desertificar" outros partidos parece estar intrinsecamente ligada à detenção e perspetiva de poder. Este fenómeno sublinha a importância do poder local, como um baluarte para a vitalidade dos partidos, e a forma como a ausência de perspetivas de vitória pode minar a própria estrutura e capacidade de renovação de uma força política, independentemente da sua dimensão.
0 Comentários
Agradecemos a sua participação. Volte sempre.