O xadrez do Poder na Madeira



Entre carisma, controlo e a ausência de protesto.

A paisagem política da Região Autónoma da Madeira, frequentemente descrita como singular, merece uma análise aprofundada que transcenda as narrativas oficiais. Ao observar a figura de Miguel Albuquerque, Presidente do Governo Regional e do PPD, é possível identificar padrões de comportamento e estratégias de controlo que, para muitos, evocam características preocupantes no espectro da governação.

O culto da personalidade e o controlo da narrativa.

Albuquerque é inegavelmente um líder carismático, uma qualidade que, no entanto, parece ser acompanhada por traços de paranoia e narcisismo. Esta combinação, argumentam críticos, é utilizada para cimentar um sentido de orgulho e superioridade que permeia as estruturas de poder. O controlo quase absoluto sobre os meios de comunicação regionais é um pilar desta estratégia. As notícias, mais do que informar, servem como veículo para "propagandas políticas" que promovem narrativas fabricadas sobre o Governo Regional e o PPD. O objetivo é claro: moldar a perceção pública, garantir a obediência e solidificar a base de apoio.

A rede de dependências e a elite satisfeita.

A manutenção do poder de Albuquerque parece assentar numa dualidade. Por um lado, a "corrupção" através de "contratos viciados" assegura o apoio financeiro dos "grandes oligarcas regionais", mantendo uma "elite feliz" e ligada aos desígnios do poder. Por outro, a vasta maioria da população madeirense é mantida numa "subsistência" que gera "dependências" do Estado. Estas redes, controladas por Albuquerque, pelo PPD e pelos seus "fantoches", veiculam a imagem de um "PPD e Miguel Albuquerque 'amigo' e 'salvador' do povo". A ironia, apontam, é que enquanto se explora o próprio povo, este vive de "migalhas", iludido por uma benevolência fabricada.

Tolerância zero à crítica e a busca por fidelidade absoluta.

Aversão à crítica é um traço marcante da governação de Albuquerque. Seja ela interna, vinda do próprio partido, ou externa, de oponentes ou da sociedade civil, a "tolerância zero" é a regra. Qualquer voz dissonante é percebida como uma "ameaça" à continuidade do seu poder, e a "censura" torna-se uma ferramenta de controlo. A exigência de "máxima fidelidade" a Miguel Albuquerque, tanto de partidários como de externos, é um imperativo. Quem ousa fazer frente, corre o risco de "opressão" e "castigo", silenciando-se os "divergentes e insurgentes" através de uma "rede de 'polícia secreta'". Este ambiente gera um clima de conformidade, onde os apoiantes, cientes da fragilidade da sua posição caso o regime caia, são "forçados e obrigados" a prestar apoio incondicional.

Manipulação mediática e desvalorização da oposição.

A manipulação de narrativas estende-se à forma como a oposição é tratada. A censura sobre o que é publicado nos jornais, diários e programas de rádio e televisão regionais, exercida através do controlo indireto das redações por "fiéis" a Albuquerque, impede que as verdades realistas da Madeira e do seu povo sejam amplamente divulgadas. Simultaneamente, o discurso de desvalorização, ridicularização e diminuição da oposição, classificando-a como "inimigo político", serve um propósito estratégico: evitar que qualquer partido ou líder da oposição ganhe notoriedade e popularidade, o que representaria o fim do poder de Albuquerque.

A anomalia da ausência de protesto e a questão dos limites de mandato.

Um dos aspetos mais notáveis e, para muitos, perturbadores da paisagem madeirense é a quase inexistência de greves, manifestações e protestos de cariz laboral, social, político ou de ordem pública contra o Governo Regional. Esta ausência de reivindicações, em contraste gritante com o território continental português, levanta questões fundamentais sobre a liberdade de expressão e a capacidade de organização da sociedade civil.

Adicionalmente, a falta de debate sobre um limite de mandatos para a Presidência do Governo Regional da Madeira, ao contrário do que acontece com o Primeiro-Ministro (até três mandatos de quatro anos) e o Presidente da República (até dois mandatos de cinco anos), é um silêncio ensurdecedor. Nem mesmo a oposição parece levantar esta questão. A ausência deste debate é sintomática de um sistema onde a perpetuação no poder é um objetivo primário.

A chama da crítica: um imperativo para a Democracia.

Neste contexto, o pensamento crítico torna-se não apenas um direito, mas um dever. A manutenção desta capacidade de análise e questionamento, mesmo que por vezes na "clandestinidade e no anonimato", é crucial. A resiliência e a esperança de que "um dia vamos vencer e a democracia verdadeira irá prevalecer" são o motor para aqueles que, apesar de tudo, se recusam a desistir e a desanimar, mantendo "a chama da luta viva". A Madeira, mais do que nunca, necessita de vozes corajosas que desafiem o status quo e exijam uma governação transparente, responsável e verdadeiramente democrática.

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