Por um cronista com mais esperança na Poncha do que na Procuradoria
Justiça a dormir, jovens a envelhecer e candidatos a sair pela porta do hospital.
A s eleições autárquicas aproximam-se e, como sempre na Madeira, é ver os partidos a correr atrás de candidatos como se fosse Carnaval: uns mascaram-se de renovação, outros vestem o disfarce da honestidade, mas todos acabam com o mesmo acessório, o medo da justiça.
Comecemos pelo fantasma da política madeirense: Pedro Calado. Calado não é candidato. Não, senhor. Mas também não foi embora. Está algures entre o “ex” e o “estou só a ver”. Foi detido há mais de um ano e, desde então, está mais parado do que uma obra da Câmara em agosto. Os madeirenses passam por ele na rua e dizem:
“Olha, aquele ali… parece um processo judicial em formato humano.”
O processo dele está tão congelado que, se fosse sobremesa, chamava-se “Pudim de Justiça com cobertura de Prescrição”. Enquanto isso, a justiça observa tudo da esplanada, a beber uma poncha e a dizer:
“Ui, que chatice, este caso tem tanta papelada…”
Com Calado fora, o PSD tentou meter um pediatra na frente da candidatura ao Funchal. Um médico de verdade! Com bisturi, consciência e tudo. Mas quando viu a lista, especialmente Patrícia Dantas, a número 2 com um processo por corrupção, respondeu com firmeza médica:
“Eu trato otites, não lavo fichas judiciais.”
E foi-se embora, provavelmente para lavar as mãos com álcool-gel e rezar por um antibiótico forte contra má reputação.
Aí entrou em cena Jorge Carvalho, atual secretário regional e agora o verdadeiro cabeça de lista do PSD ao Funchal. É o substituto do substituto, o plano C que virou plano A. Diz-se que tem experiência, que conhece o sistema, que vem para estabilizar. Traduzido: é o género de pessoa que sabe onde estão os dossiers, mas também sabe não lhes mexer muito para não levantar poeira (ou mandados de detenção).
Mas nas ruas do Funchal, ouve-se outro nome a circular com aquele sussurro clássico de novela política:
Bruno Melim.
Oficialmente está fora. Mas extraoficialmente? Há quem diga que anda a fazer contas, a medir o pulso e a treinar o sorriso para os cartazes. O jovem promissor, que já é presidente da JSD há OITO anos. O homem entrou na juventude partidária quando o TikTok ainda era o Facebook.
Bruno Melim é aquele tipo de jovem que fala em mudança enquanto renova o cartão de militante com pontos acumulados. A sua carreira tem mais continuidade do que os cartazes do Albuquerque. O povo pergunta:
“Mas este jovem já trabalhou fora da política?”
E enquanto isto tudo acontece, a justiça segue o seu ritmo, mais lento do que a fila dos CTT. Casos como o de Sócrates (sim, o do PS), Pedro Calado (PSD) ou Patrícia Dantas mostram que, em Portugal, há dois tipos de tempo: o meteorológico e o judicial. E este último está sempre nublado com 0% de precipitação.
Na Madeira, toda a gente fala em renovação, mas o que se vê é reciclagem. As listas são como sopa do dia: pode ser nova, mas os ingredientes são os mesmos de ontem. E os eleitores, coitados, ficam a escolher entre “o mesmo de sempre” e “o mesmo disfarçado de novo”.
Portanto, temos:
- Um ex-candidato detido mas omnipresente,
- Uma número 2 com currículo no DCIAP,
- Um candidato oficial que apareceu depois do pediatra fugir,
- Um jovem que já devia ter idade para presidir ao lar da JSD,
- E uma justiça que só corre… quando tropeça.
É a democracia à madeirense: exótica, resiliente e com mais drama do que uma telenovela venezuelana com financiamento público.
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