Aguardo por tempos de pinos nos estacionamentos, a guardar lugar no Funchal, para montar acampamento no "parque do Albuquerque". Era tão romântico uma fogueira no passeio.
O Funchal de hoje é uma cidade de contrastes gritantes, uma realidade que se manifesta de forma cada vez mais visível (ou invisível, no caso dos carros de aluguer). Não é por acaso que a maioria das rent-a-cars deixou de identificar os seus veículos ou o faz de forma quase impercetível. Há uma razão clara para esta discrição: o crescente descontentamento dos madeirenses face aos carros de aluguer, que se tornaram um símbolo daquilo que a cidade se está a tornar: resort em caos.
Quem vagueia pelas ruas do Funchal à noite consegue ainda vislumbrar resquícios da vida local, do Funchal que um dia foi dos seus habitantes. Contudo, essa ilusão desvanece-se impiedosamente ao romper da manhã. A capital madeirense transformou-se num verdadeiro resort, onde a vida é pautada pelo ritmo do turismo. Contudo, é na noite que vemos como a cidade se tornou um resort com a quantidade de carros de aluguer nos estacionamento da cidade, aí percebemos a dimensão do problema.
Esta dualidade cria uma cidade que opera a duas velocidades distintas e, muitas vezes, em rota de colisão. De um lado, estão os madeirenses – muitos deles frustrados, que lutam para trabalhar, para ter uma vida digna, para ter acesso a habitação e a serviços que se tornaram inatingíveis devido à pressão turística. Do outro, os turistas, a desfrutar de uma cidade que, para eles, é lazer e despreocupação.
O barulho, o trânsito, a gentrificação, a especulação imobiliária, tudo isso é, para muitos, o preço visível e audível desta transformação. Os carros de rent-a-car são apenas o espelho de um fenómeno maior, de uma cidade que se divide entre quem vive e quem visita, e onde a balança pende cada vez mais para um lado, à custa do outro.
A maioria das rent-a-cars deixaram de identificar seus carros ou fazem-no de forma discreta. A razão é porque sabem que os madeirenses estão cada vez mais intolerantes com carros de rent-a-cars e pelo que representam na estrada, confusão e transgressão.
Quem tem saudades da qualidade de vida antes da Covid? Ponha o braço no ar. Que transformação desde então, para pior.
O Rali das Rent-a-Cars:
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