V ão sendo anunciados de forma galopante a transformação de locais emblemáticos do Funchal em hotéis e alojamentos locais. A Panmol foi a última, na mesma rua, a metros, foi a Lua e isto é assim de proximidade, dia a dia. Uma loucura a apagar a história, os costumes, gostos e cheiros como que só a Fesliberta contasse e apagasse a culpa. Está-se a matar o autêntico e singular do Funchal e a não tentar conservar o comércio. É verdade que eram espaços para reabilitar, mas porquê só alojamento? O Funchal está a desertificar de madeirenses. Será um resort descaracterizado, para o turista que vem nada nota, até porque ele também já veio mais culto e atento do que vem agora. O madeirense vê e sobretudo os emigrantes regressados de férias notam o impacto e não gostam. Por mais que as obras estejam reluzentes... não lhes dizem nada.
Reforço, o Funchal está-se a tornar um resort, uma capital descaracterizada, os estacionamentos são autênticos stock de carros de rent-a-car a denunciar isso mesmo (mesmo "descaracterizados" por causa do estigma), o comércio local está a desaparecer, a vida, cheiros e tradições a acabar. Estamos na monocultura do turismo. Basta uma pandemia, uma guerra, um atentado, uma Ryanair torcida ou "terrorista" (link) e vai tudo à vida. Contem com duas comunidades de máfias a crescer, sem contar com a reinante.
A proliferação de unidades hoteleiras e alojamentos locais, embora traga investimento e emprego ao setor do turismo (baixos vencimentos), acarreta também uma descaracterização progressiva da capital madeirense. Ruas que antes eram ocupadas por lojas, mercearias e cafés frequentados pelos locais dão agora lugar a fachadas uniformizadas e espaços pensados para turistas. Comércio tradicional de referência trocados por lojas de souvenirs da China. Esta monocultura do turismo, leva ao desaparecimento de cheiros, sons e tradições que compunham a identidade do Funchal. A vida autêntica dos seus moradores é substituída por uma "cenografia" turística, onde o genuíno se esbate.
O comércio local sofre um golpe direto porque quando se substitui locais por turistas as necessidades são outras. Portanto, comércio tradicional a pique. Pequenos negócios, muitas vezes geracionais, não conseguem competir com as grandes cadeias ou com a alteração do perfil do consumidor, que passa a ser predominantemente turístico. A mesma concorrência de naturais por habitação, o mesmo problema. A diversidade de oferta diminui e a cidade perde a sua alma comercial. O madeirense é ostracizado, sofre, mas há-de votar na estabilidade dos outros.
A crescente frota de carros de aluguer, que ocupam grande parte dos espaços disponíveis, é um sinal visível da massificação turística. Isso não só dificulta a vida dos residentes, que lutam por um lugar para estacionar, como também evidencia uma cidade que se molda cada vez mais às necessidades do visitante, em detrimento do dia a dia dos seus cidadãos. Afinal os estacionamentos de Pedro Calado eram para esta política suicida da capital? O que vamos ver a debate nestas Autárquicas?
A dependência quase exclusiva do turismo, ou monocultura do turismo, cria uma vulnerabilidade económica acentuada. Cenários como uma pandemia, uma guerra ou um atentado podem ter um impacto devastador, paralisando a atividade económica e deixando a cidade numa situação precária. A falta de diversificação de setores produtivos torna a economia local excessivamente exposta a choques externos. Caramba, não aprendemos nada com a Covid.
O rápido crescimento e o foco exclusivo em setores lucrativos estão a gerar tensões sociais, os "postos a andar" das suas casas. A expansão desordenada e a especulação imobiliária, muitas vezes ligadas a este boom turístico, criam um terreno fértil para o crescimento de atividades ilícitas e comunidades mafiosas, agravando problemas de segurança e desequilíbrio social, para além das existentes. Falo dos "anónimos" de habitações de um milhão para lavagem e nacionalidade. Quantas pessoas não sentem a situação inusitada dos seus vizinhos desaparecerem e surgirem estrangeiros. Já nem as zonas de habitações parecem Madeira. Há um volume a nos engolir.
O Funchal enfrenta um desafio complexo, equilibrar o desenvolvimento turístico com a preservação da identidade, da qualidade de vida dos seus habitantes e da diversidade económica. Eu não ouço o "madeirense" como maioria quando estou no Funchal. Sem uma abordagem estratégica e sustentável, corremos o risco de termos um "resort" descaracterizado e não uma capital, perdendo a essência em nome de um crescimento que pode, a longo prazo, revelar-se insustentável.
O Funchal está a descaracterizar-se, renovam prédios, parece bom, mas vai sair caro. É mais ou menos os jornalistas contentes por perder a idoneidade mas a garantir o vencimento.
1 Comentários
O vereador que deu azo a que isto acontecesse um tal de Rodrigues... ....
ResponderEliminarOnde andas
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