H á festas de "pacote" neste país, empresas e organizações que implementam a mesma festa em várias zonas, o Mercado Quinhentista de Machico é uma delas, poderia estar em qualquer outro lado do país mas aceita-se. É importante ser-se fiel e autêntico ao que realmente se passou em cada lugar há muitos anos atrás, caso contrário, estas organizações passam a ser só um veículo de comes e bebes, primeira razão de muitas festivais de Verão e não a cultura. Sei o que estou a dizer, desisti de ir a concertos, alguns, porque as pessoas não sabem estar, sobretudo ao ar livre. O palco parece música ambiente para a conversação e o consumo, pessoa a pessoa, ao telemóvel, enfim.
Nesta terra anestesiada por festas, com o mundo a mudar e nós sem povo com pé de meia e muito menos na robustez de uma classe média, quem inventar alguma festa tem apoio do Governo, adicto, ou de alguma Casa do Povo financiada para o propósito. Vem aí o Festival da Sardinha. Eu sei que a Madeira tem a capacidade de produzir festas com hortícolas e frutos ausentes ou importados, mas a sardinha é se esticar! Expliquem-me uma coisa é o Festival da Sardinha em conserva? Se sim, adicionem o "conserva". Sabem, podem perguntar a pescadores, na Lota não porque se for preciso pescamos Orcas para não beliscar o GR, nós não temos sardinhas! As que temos vêm do continente. Esta festa, que já existe no continente e é para replicar por cá, sem pingo de fundamento é só para fomentar negócio. Não é autêntico da região.
Entramos, era previsível e a culpa é de Eduardo Jesus, em primeira linha, na Perda de Autenticidade. Vamos lá ver uma coisa, existe o "palavrão" gentrificação, que não existe no dicionário do malcriado, que basicamente é a transformação da realidade urbana para outra, onde se substitui os naturais residentes, marginalizados por fracos recursos, por outros moradores estrangeiros, turistas ou residentes, com maior poder de compra e que mantêm a bolha imobiliária, com sobrevalorização do edificado para hotéis, mas sobretudo Alojamento Local. Sobretudo o negócio que se poderia ter em qualquer lugar do mundo.
Passamos, com este Festival da Sardinha, às restantes gentrificações, a cultural e económica, resultado da massificação do turismo. Para que Eduardo Jesus maquilhe este desastre, pois ele mesmo disse que é preciso distribuir esta gente, nada melhor do que inventar festas por todo lado. É assim que se chamam os gananciosos, como o monopolista das festas e bares para acompanhar... Assim se produz o desaparecimento do genuíno, até nas mais famosas tascas de poncha, porque o sucesso é itinerante dos predadores da economia, destroem os locais tradicionais que serviam as necessidades quotidianas dos residentes e também dos estrangeiros. Tudo é progressivamente substituído pela nova caça ao dinheiro dos turistas da massificação.
Assistimos à monocultura cultural e comercial com foco em vender à massificação. Como isto é sempre sob o ponto de vista do poder e dos monopolistas, é lógico que a sazonalidade traz precaridade, só os negócios dos mesmos são uma festa contínua em barracas eventuais, aqui e ali, sem factura.
Espero que o Madeira Opina me permita este fim aparentemente menos educado. Há a Festa Branca, mas não há o Festival da Branca, disso temos muito, ou o Festival das Sintéticas. A Quinta Vigia merecia uma Festa. Outro tema poderia ser a Festa das Cabras, não podendo ir para a serra e ficando na "babujinha" do poder, poderiam torná-las polivalentes e até convidar o Matateu, que sairia feliz desta festa.
Amigos, não temos sardinhas na Madeira, vêm do continente, parem de inventar tretas! Mas pronto, sei que se faz festas dos produtos que nalgum tempo produzimos, mas nunca sardinhas! Nem conserveiras temos!
A realidade um dia entra com estrondo na casa dos anestesiados, porque a ditadura e os monopólios avançam. O madeirense sofre xenofobia na sua própria terra pelos seus. Também sei o que digo, já senti na pele. Muitos não gostam de lugares ocupados por madeirenses, fazem menos despesa. Mas esses nunca pagam melhor, hipócritas e assassinos da Madeira sustentável.