Q uando vou de carro e ouço o senhor Marco Cabral no seu part-time de spot publicitários do Governo, acerca da prevenção dos incêndios, ponho-me a pensar que sim, há madeirenses negligentes, mas a quantidade de turismo rasca que açambarcou a nossa ilha são muitos mais. Por norma, o madeirense que pode sair naturalmente ausenta-se na ilha para férias. Onde estão os avisos e mensagens para a maioria que criou outro monopólio: os turistas na serra?
Nestes dias, próximos do incendiário 30-30-30, passa-me pela cabeça os detritos deixados na serra pelo turismo rasca e ainda os acampamentos abusivos que proliferam. Ao chamado "30-30-30" — temperatura superior a 30ºC, humidade relativa do ar inferior a 30% e vento superior a 30 km/h — junta-se o 3000 ou 30.000 na serra? A combinação perfeita para risco de incêndio é elevado e a propagação dos mesmos. Neste contexto, os comportamentos negligentes assumem uma gravidade ainda maior. Mais gente, mais probabilidade.
É evidente que o termo "turismo rasca" nasce do que vemos cá por baixos nas urbes aplicado ao meio natural, refere-se a comportamentos irresponsáveis de pessoas que, ao visitarem espaços naturais, não respeitam o ambiente. Em zonas de serra, isso manifesta-se através de lixo espalhado, como plásticos, garrafas de vidro e beatas de cigarro, etc. Quem consegue controlar isto? Ninguém, impossível. Para além do impacto ambiental imediato na paisagem e na vida selvagem, estes detritos representam um risco de incêndio sério. Uma garrafa de vidro, por exemplo, pode atuar como uma lente e iniciar um fogo, e as beatas de cigarro continuam a ser uma das principais causas de incêndios florestais.
Os madeirenses estão avisados, mas e o turismo?
Com o aumento do turismo em espaços naturais, os acampamentos abusivos ou selvagens tornam-se um problema. Muitas vezes, estes acampamentos não respeitam as regras de segurança, como a distância a áreas florestais ou a proibição de fazer fogueiras. Numa noite de vento, uma faísca de uma fogueira mal apagada, ou mesmo de um fogão de campismo, pode ser o suficiente para deflagrar um incêndio incontrolável, pondo em risco não só a floresta, mas também as populações e os próprios campistas. A falta de fiscalização e o desconhecimento das regras por parte de alguns visitantes agravam ainda mais esta situação.
Ambos os problemas convergem no mesmo ponto: a irresponsabilidade humana como um catalisador de tragédias ambientais. Numa época em que as condições meteorológicas são tão perigosas, a conscientização e a fiscalização são cruciais para proteger o nosso património natural e evitar os cenários que se vivem anualmente em Portugal.
Num instante, a loucura de rentabilizar acaba com o património natural em cinzas. Precisamos de mudar o "actor" do turismo, ele não vai aceitar que está errado, é preciso mudar para que outra pessoa tome decisões eficazes.
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