A Ilha dos Intocáveis


Quando até Ramos e Jardim entram em pânico,
é porque o sistema está com febre.

N a Madeira quando o PSD começa a ver que pode perder, não faz campanha, marca jantar. É sempre no Lagar. Vinho, espetada e os do costume a mandar postas de bacalhau como se ainda tivessem cargo. Os velhos do Restelo que já deviam estar em casa a dar milho aos pombos mas continuam agarrados ao volante disto tudo.

Foram eles que fizeram a Rubina perder. Foram eles que empurraram o bezerro dourado para cima do palco. Aquele que está calado que nem um rato. Sumiu.

E como já não tinham a quem chamar, agora atiram o Jorge Carvalho para a frente. Um homem que parece feito num molde sem brilho. Olhar perdido, pose de pau, sorriso sem sal. Não tem uma ideia dele. Fala como se estivesse sempre a repetir o que alguém lhe disse cinco minutos antes. Se não fosse genro de quem é, ninguém lhe passava cartão. Mas como é bom de segurar, calado e obediente, lá vai ele ser candidato à Câmara.

Mas quem manda não é ele. A velhada toda que nunca larga o osso. Estão agarrados à política como se fossem donos do terreno. Já nem fingem que há ideias. Basta garantir que nada muda.

O problema é que desta vez apareceu alguém que não está nesse jogo.

Fátima Aveiro não é o centro da história, mas é o centro do incómodo. Bastou aparecer e o sistema todo ficou tenso. Porque não veio pedir licença. Porque não anda com medo de falar. Porque já viu como isto funciona por dentro e não gostou. Fala sem filtro. E isso, para quem anda a proteger o tacho, é um perigo.

Foi o suficiente para a máquina começar a mexer. O Diário de Notícias, que devia informar, virou extensão da campanha. A mulher do homem que manda ali mesmo sem título é assessora da Câmara, levada pela mão de Calado. Agora com Jorge, já está tudo preparado para continuar. De manhã escreve o jornal, à tarde escreve discursos.

Jorge Carvalho é a cara da máquina. Não pensa, repete. Não propõe, obedece. Se lhe tirarem o papel da mão, fica sem nada para dizer. Está lá porque convém. Porque não levanta ondas. Porque é da casa. Porque o sogro é quem é. Porque está a fazer um frete.