Alberto João vs. Miguel Albuquerque e o Hospital da Madeira


Do urbanismo à suspensão

É impossível não recordar a forma como, nos tempos do Dr. Alberto João Jardim, se começou a pensar o novo hospital da Madeira. A primeira vez que a ideia saiu do papel foi precisamente através do plano de urbanização de Santa Rita, pensado de forma integrada, com uma visão de cidade e de território. Na altura, o então Presidente do Governo Regional contou com a colaboração da Câmara Municipal do Funchal, de técnicos promissores na área do urbanismo e, em especial, da arquiteta Rosário Coelho, do próprio Governo Regional da Madeira, uma referência maior no planeamento urbano da Região.

Esse plano não se limitava a desenhar um hospital isolado. Havia uma visão alargada: estradas, estacionamentos, áreas verdes, acessibilidades, e até a possibilidade de criar um conjunto habitacional que pudesse servir de suporte à unidade hospitalar. Uma lógica europeia, sustentável, de pensar o hospital como parte viva da cidade.

Mas esse plano de urbanização foi arquivado. Caiu no esquecimento. E o que se seguiu foi algo radicalmente diferente. Hoje, sob a liderança de Miguel Albuquerque, o planeamento urbano é visto não como ferramenta de desenvolvimento, mas como obstáculo a contornar. Prefere-se suspender PDMs, como aconteceu no Porto Santo, em vez de se lançar mão das próprias leis do ordenamento do território.

O hospital, obra estruturante para o futuro da Madeira, deveria estar enquadrado num plano de urbanização ou num plano de pormenor. Deveria nascer com os devidos estudos de acessibilidade, de mobilidade, de impacto ambiental e urbano. Mas não: optou-se por um caminho avulso, sem a visão integrada que o urbanismo oferece.

A comparação é gritante:

• Alberto João Jardim, ainda nos anos 90, imaginava um hospital dentro de um tecido urbano pensado ao detalhe, com preocupações de sustentabilidade e desenvolvimento integrado.

• Miguel Albuquerque prefere a via rápida da suspensão dos planos, ignorando as ferramentas de planeamento, deixando de lado a lógica de cidade e cedendo ao imediatismo.

E aqui chegamos ao ponto central: o que está em causa já não é apenas o hospital, mas a forma como se governa a Região. Quando se abdica do urbanismo, abdica-se de pensar o futuro. Quando se ignora o ordenamento do território, entrega-se o destino da cidade à improvisação. Não se governa com rasuras, suspensões e atalhos, mas com visão, estratégia e responsabilidade.

Por isso, é urgente inverter esta lógica. Não basta aplaudir as inaugurações ou as primeiras pedras; é preciso exigir mais. Precisamos de forças políticas que devolvam centralidade ao planeamento urbano, que percebam que o desenvolvimento sustentável começa no desenho do território e não nas fotografias de campanha. O hospital da Madeira devia ser o exemplo maior dessa mudança – e, no entanto, está a ser o retrato fiel de um poder que prefere mandar abaixo os planos em vez de os construir.

Se a Madeira quer futuro, tem de mudar agora. Urbanismo e ordenamento não são palavrões técnicos: são as ferramentas que distinguem uma terra pensada de uma terra remendada. Albuquerque pode ter escolhido a via da suspensão, mas cabe aos madeirenses escolher a via da reconstrução, com outros protagonistas e outras políticas.

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