S ão Vicente, ilha da Madeira – A sabedoria popular, essa fonte inesgotável de verdades inconvenientes, sempre nos ensinou que “as latas vazias fazem mais barulho que as cheias”. Mas, no concelho de São Vicente, a sabedoria popular foi elevada a um novo patamar de excelência política, uma espécie de “Einstein do alarido”, cortesia do PPD.
Diz-se nas ruas, nos cafés e em qualquer esquina onde não haja um microfone do PPD, que a frase se tornou o mantra oficial do partido sempre que um incauto forasteiro, com o seu cérebro, atreve-se a usar o seu direito constitucional de ter uma opinião. É uma espécie de carimbo de aprovação – ou, mais precisamente, de desaprovação – que vem selado com um rótulo de arrogância inigualável. Porque, no entender do PPD, a crítica é um luxo que apenas os ricos, os que herdam ou os que têm uma conta bancária misteriosamente inchada podem pagar. Os outros? Ah, os outros são apenas uma espécie de “gatos pingados” que, se fossem realmente espertos, já teriam comprado o seu próprio poleiro, ou, na falta de herança, teriam aprendido a arte da surripança com “juízo".
Em São Vicente, ser rico é sinónimo de ter razão, ser pobre é apenas um sintoma de ignorância crónica. Os que são do PPD não são apenas cidadãos – são deuses omnipotentes, com a sua própria religião de “eu-sei-tudo-e-tu-não-sabes-nada”. As suas palavras são ordens divinas, gravadas em tábuas de pedra e cumpridas com um zelo que faria inveja a qualquer exército de formigas. Os restantes mortais, os que reclamam e partilham as suas visões, são tratados com a mesma consideração que se dá a um moscardo persistente. Eles podem ter uma ideia genial, uma solução para a crise de estacionamento, ou uma forma de combater a praga de mosquitos, mas se não são do PPD, as suas palavras são apenas ruído de fundo.
E é por isso que, nas próximas eleições autárquicas, a vitória do PPD não é apenas uma certeza, é uma lei da física. Os vicentinos, ao que parece, têm no seu ADN uma atração fatal pelo status quo. A ideia de mudar é mais aterradora do que ter de viver sem internet. Mudar os hábitos e costumes que já são uma tradição? Ora, isso não faz sentido! Como é que os pobres coitados do PPD irão continuar a enriquecer à custa dos vicentinos se perderem a câmara? Onde é que isso se encaixa na lógica da vida? A perspectiva de um futuro sem o PPD no poder é um pesadelo digno de um filme de terror. O medo de uma vingança divina, ou, mais realisticamente, de uma vingança política, é tão palpável que as conversas sobre o tema são sussurradas em segredo, como se fossem um crime de lesa-majestade.
O PPD não é apenas um partido, é uma instituição, uma espécie de “Pai Natal” que distribui favores, ou melhor, uma espécie de “Deus” que distribui benesses. E quem pode eleger alguém que irá fazer pobre quem até aqui tem sido rico? Não faz sentido! É uma heresia! Afinal, o objetivo da vida é enriquecer, não é? E se o PPD te dá essa oportunidade, mesmo que de forma indireta e um pouco… nebulosa, por que haverias de mudar? É como o rato de igreja do povo, o pobre desgraçado que, depois de pagar os impostos, ainda vê a sua mulher fugir com outro rato, levando todo o queijo. Ele pode até ter os seus pensamentos, mas no final, sabe que continuará pobre. Porque, venha quem vier, o queijo não vai parar à sua boca.
