O PSD nunca perde a sua costela da insensibilidade social, parece igual à costela de nunca se demitirem por mais grave que seja a situação. Mas bem, o aumento das propinas e a liberalização do seu valor, num contexto de elevado custo de vida e de crise de habitação, está a ser visto por muitos como um caminho para que a universidade em Portugal regresse a um modelo de exclusividade, onde o acesso é privilegiado para as elites financeiras. Esta perspetiva ganha força ao analisar os vários fatores que se interligam e criam barreiras significativas para estudantes de classes sociais menos favorecidas. Madeira Velha, Portugal da Ditadura?
A premissa de que a educação superior deve ser acessível (não é isso que diz a Constituição?) a todos choca com a realidade económica atual. A subida das propinas aumenta a carga financeira sobre as famílias, que já se debatem com o aumento exponencial do custo de vida. No topo desta preocupação está a crise habitacional. O crescimento descontrolado do Alojamento Local (AL) em cidades universitárias, como Lisboa, Porto e Coimbra, retirou do mercado um vasto número de imóveis, resultando numa subida vertiginosa dos preços de arrendamento. Uma oportunidade para Universidades do interior?
Para um estudante, sobretudo os que se deslocam de outras regiões, o custo de um quarto ou de uma casa tornou-se incomportável. Quando se soma a este valor o das propinas, o acesso à universidade transforma-se num luxo que poucas famílias conseguem suportar.... porque elas continuam a viver. O que antes era uma despesa elevada, mas gerível, tornou-se para muitos uma barreira intransponível.
O argumento de que os apoios e a ação social do Estado mitigam este problema tem sido questionado. As bolsas de estudo e outros auxílios financeiros têm regras que, em muitos casos, não se ajustam à realidade das famílias. Os critérios para atribuição de bolsas são por vezes tão restritivos que acabam por deixar de fora muitos estudantes que, embora não se enquadrem nas categorias de pobreza extrema, não têm capacidade financeira para enfrentar o custo de vida universitário.
Em vez de servirem como uma rede de segurança, as políticas de ação social parecem, para muitos, ter-se transformado em mecanismos que filtram e afastam potenciais candidatos, em vez de os acolher. A burocracia, os requisitos de rendimento e a demora na atribuição de apoios são obstáculos que desmotivam e acabam por forçar muitos jovens a desistir da ideia de prosseguir os estudos.
Ao invés de uma instituição de acesso universal, a universidade arrisca-se a ser, de novo, o lugar das elites. O aumento das propinas e o fracasso dos apoios sociais criam um sistema onde só quem tem capital financeiro suficiente pode sequer pensar em aceder a um curso superior. Esta tendência inverte décadas de políticas que procuraram democratizar o ensino e abrir a universidade a todas as classes sociais.
O resultado é um sistema educativo que, em vez de ser um motor de mobilidade social, se torna um veículo de perpetuação de desigualdades. A diminuição do número de inscrições nas universidades, já sentida este ano, pode ser o primeiro sinal de um problema grave, indicando que a educação superior está a deixar de ser uma opção viável para a maioria da população e a voltar a ser um privilégio de poucos.
E não falei da falta de professores, deram cacetada até afugentar toda a gente da via de ensino.
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