O domínio das obras e hotelaria geram vencimentos baixos, mas Paulo Pereira fala como se fossem a melhor coisa do mundo, ou isto ou a pobreza. Está no gozo? Porque emigram os madeirenses e chegam cada vez mais estrangeiro da baixo custo para trabalhar na Madeira, isto não é a história que vêm fazer o trabalho que os madeirenses não querem fazer, não, os madeirenses vão embora da ilha porque não conseguem viver, os de idade ativa, e os estudantes já se posicionam para a emigração porque não há saídas profissionais na Madeira para absorver gente formada.
Meus amigos, basta ver o tipo de trabalhadores que chegaram à ilha! E também porque os jovens emigram!
Uma economia fortemente dependente dos setores da hotelaria e da construção civil (obras) apresenta um risco significativo de ter altos níveis de pobreza no trabalho (ou working poor), mesmo com o emprego a crescer. Isto já foi falado amplamente, mas como na Madeira a maioria só vê fotos e títulos são facilmente enganados.
Isto acontece devido a uma combinação de fatores estruturais específicos destes dois setores. A ligação entre estes setores e a pobreza assenta principalmente na natureza do trabalho e na estrutura de custos e receitas das empresas:
1. Salários Baixos e Prevalência do Salário Mínimo
Baixa Qualificação Percebida: Muitas funções na hotelaria (limpeza, pessoal de cozinha de entrada, auxiliares de mesa) e na construção (serventes, ajudantes) são classificadas como exigindo baixa qualificação formal. Isto exerce uma pressão constante para manter os salários próximos do salário mínimo nacional.
Competição de Custos: No turismo, a competição de preços é global. Para maximizar as margens de lucro e oferecer preços competitivos, os operadores hoteleiros e turísticos tendem a conter os custos laborais, que são um dos maiores encargos.
Trabalho Sazonal/Temporário: A hotelaria, em particular, é dominada pela sazonalidade. Os contratos de curta duração ou a tempo parcial (e.g., contratos intermitentes) são comuns, o que leva à instabilidade de rendimento e dificulta a progressão na carreira ou a acumulação de experiência para negociar salários mais altos.
2. Condições de Trabalho e Pressão de Horários
Elevada Carga Horária e Ritmo Intenso: Ambos os setores são conhecidos por horários longos, irregulares, trabalho ao fim de semana e feriados.
Embora estas horas possam gerar algum rendimento adicional através de horas extra, a remuneração base permanece baixa. Se as horas extra forem mal pagas ou não declaradas (economia paralela), o trabalhador fica ainda mais vulnerável.
Baixa Sindicalização: A rotatividade e a grande proporção de trabalhadores imigrantes ou jovens inexperientes nestes setores dificultam a sindicalização e a negociação coletiva. Isto limita a capacidade dos trabalhadores para exigirem melhores condições e aumentos salariais acima do mínimo legal.
3. A Desconexão entre Crescimento Económico e Salários
Quando o setor hoteleiro e o da construção crescem, o PIB (Produto Interno Bruto) do país cresce. No entanto, este crescimento não se traduz automaticamente em melhores salários.
Rendimentos do Capital vs. Rendimentos do Trabalho: Grande parte das receitas geradas no turismo reverte para o capital (lucros, rendas, franchising), e não para o trabalho. A riqueza criada é mal distribuída.
Inflação Impulsionada pelo Crescimento: O aumento da procura no turismo (e o consequente crescimento imobiliário) pode levar ao aumento do custo de vida, especialmente o custo da habitação nas grandes cidades (gentrificação).
O Resultado: Os trabalhadores que ganham o salário mínimo ou valores próximos dele não conseguem acompanhar a inflação e o custo de vida, mesmo estando empregados a tempo inteiro. Estão, por isso, em situação de pobreza ou precariedade económica.
Uma economia baseada em hotelaria e construção arrisca-se a ser uma economia de empregos de baixos salários, onde o trabalho não é uma garantia de suficiência económica. A instabilidade contratual impede a planificação financeira. O crescimento da riqueza do país não se reflete na melhoria da qualidade de vida da base da sua força de trabalho.
A superação deste problema exige uma aposta na diversificação económica, na valorização da formação e na negociação de melhores salários e condições nos acordos coletivos. O que fez a Madeira depois da Covid? Quando mandou diversificar a Madeira amplificou o erro.
P.S.: O Pedro Santos Guerreiro tem uma excelente apresentação sobre este assunto, mas a Madeira não chama quem diz a verdade, só quem bajula por uma estadia, um patrocínio, um evento pago... o Eduardo Jesus é um artificial!