Acusação de partidarização chega a Lisboa
C hegou ao conhecimento de vários partidos com assento parlamentar a intenção de chamar o Presidente do Conselho de Administração da RTP a prestar esclarecimentos em Lisboa. A razão é clara: a crescente perceção de que a RTP Madeira funciona como um espaço capturado pelo PSD e pelos seus interesses locais.
As críticas têm-se acumulado. Comentadores pagos com dinheiros públicos são acusados de se comportar como verdadeiros propagandistas do regime. Em vez de análise independente, oferecem opinião alinhada; em vez de informar, desinformam. A alegada independência editorial transforma-se, recorrentemente, em ataques dirigidos apenas contra partidos que se apresentam como alternativa política na Região.
Em contrapartida, PSD e PS surgem nos ecrãs em registo de festa permanente: antena aberta, tempo de antena abundante, elogios fáceis e um palco sempre disponível. Para os restantes, sobra a chacota e o desprezo. O resultado é descrito como “jornalismo de camaradagem”, em que alguns são tratados como figuras de Estado e outros como intrusos.
A grande questão levanta-se: quem governa, de facto, a RTP Madeira? O Conselho de Administração em Lisboa ou um pequeno núcleo de jornalistas regionais, acusados de confundir jornalismo com militância partidária?
Se a promessa de levar o caso ao Parlamento se confirmar, abre-se finalmente espaço para escrutinar uma situação que ameaça a credibilidade do serviço público. Porque, recorde-se, jornalistas devem ser sérios, imparciais e profissionais — não megafones de partidos políticos travestidos de comentadores.
O que está em causa é mais do que a gestão de um canal regional: é a função essencial da RTP enquanto serviço público, financiado pelos impostos de todos os cidadãos. Em vez de servir a democracia, a RTP Madeira é acusada de se servir dela para manter o status quo.
A situação torna-se ainda mais delicada em período pré-eleitoral. A lei é clara quanto à necessidade de igualdade de tratamento e neutralidade informativa por parte dos órgãos de comunicação social, em particular do serviço público. Compete à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) garantir que não há desequilíbrios nem favorecimentos partidários, e que a RTP cumpre o seu dever de pluralismo e imparcialidade.
Resta saber se o Presidente do Conselho de Administração da RTP continuará a assobiar para o lado ou se aceitará explicar publicamente a existência de comentadores residentes, com contratos vitalícios, cuja missão parece ser atacar sempre os mesmos e proteger sempre os mesmos.
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