"Y": resgatada para ser obrigada a votar


Nota: baseado em factos reais com nomes trocados.

"Y" nasceu em 1989, na Venezuela. Filha de emigrantes madeirenses oriundos do sítio da Tabua e de São Paulo, na Ribeira Brava, cresceu numa Venezuela já marcada pela turbulência política e pela sombra da ditadura de Nicolás Maduro. Durante anos, a sua família lutou com dignidade para manter de pé um restaurante construído à custa do suor português. Mas a tirania esmagou-os: perseguições, falta de bens essenciais, medo diário. O pai de "Y" foi vítima direta do regime. A casa que era lugar de esperança tornou-se lugar de silêncio e sofrimento.

Foi nessa altura que "Y" tomou a decisão mais dura da sua vida: abandonar a terra onde nasceu, com quatro filhos ainda crianças, e regressar à Madeira, em busca de segurança e futuro. Não voltou como emigrante de férias, mas como refugiada de guerra não declarada, carregando nos ombros os escombros de uma vida destruída.

Na Madeira, encontrou a mão estendida do PSD. Apoio, promessas, facilidades de integração. Era a tábua de salvação para alguém que chegava ferida, cansada e sem rumo. Mas a generosidade escondia uma condição amarga: o apoio vinha com preço.

Com o tempo, "Y" descobriu que não lhe davam apenas uma oportunidade de recomeço. Cobram-lhe a todo o instante. O voto tornou-se moeda de troca, como se a sua dignidade tivesse sido hipotecada. E pior: relatos repetidos dão conta de um homem do PSD que se apresenta em seu nome, exigindo-lhe não só fidelidade política, mas também “outros favores”. Uma chantagem silenciosa, mascarada de gratidão forçada. Uma cadeia invisível que a prende de novo, desta vez, não em Caracas, mas no coração da Madeira.

O caso de "Y" não é apenas pessoal. É simbólico e escandaloso. Mostra como, sob a capa da solidariedade, se escondem práticas de manipulação, de abuso e de perversidade humana. Mostra como partidos que deviam proteger os mais frágeis usam o desespero como combustível eleitoral. Hoje é "Y", mas quantas mais “Y's” estarão a viver o mesmo, escondidas em silêncio, por medo ou vergonha?

O testemunho dela já corre em redes, em contactos de organizações de defesa de mulheres e de refugiados. A sua voz ecoa para além das fronteiras da Madeira. Revela a podridão de um sistema que resgata para escravizar, que acolhe para dominar, que transforma vítimas em instrumentos políticos.

É urgente perguntar: quem vai proteger "Y" de novo? Porque o que começou como um ato de apoio transformou-se em cárcere moral. A sua história não é ficção, é um grito. E quando este grito ecoar mais alto, a Madeira, e o mundo, verão a face obscura de quem se diz salvador, mas age como carrasco.

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