Q uantas vezes ficou com a argola do enlatado na mão, o autocolante dos lenços de papel que não descola na primeira vez, a embalagem do queijo selada a quente onde não se encontra maneira de meter a unha para levantar o plástico de cobertura e pica-se o plástico com a faca, o saco de pães de leite (fabricados na Madeira" com um araminho verde tão poupadinho que ninguém mete a unha e passamos a faca no plástico? E nunca te aconteceu ir buscar o abre-latas esquecido nos confins da gaveta porque a lata de abertura fácil parece ter mais um risco a tinta do que um vinco que fragiliza a embalagem?
Também há o contrário, numa escala muito menor, como a tampa do detergente líquido da roupa que se apertas salta o topo da tampa como se fosse uma moeda.
Mas do que gosto mais é quando as máquinas atraiçoam as máquinas, em vez de ser o homem a sofrer as consequências. Como as cápsulas de café quando a máquina vai forçando a pressão e não sai café e ficamos a pensar se paramos porque vai explodir ou assistimos à vingança fria.
Depois há as tampinhas presas à garrafa, em água é pacífico, mas já em produtos lácteos tens duas hipóteses, ou bebes o soro primeiro ou passas a língua na tampa sem verter em cima de ti. Uma verdadeira ginástica que ainda ninguém pôs em vídeo. Nada melhor do que ter a camisa pingada de leite para surgirem os maldosos com a boca elementar que não falha...
E os pacotes de bolacha que é preciso ir passando o dedo à volta, como quem está a lubrificar para sentir a pontinha picada do plástico ou a fita mais vigorosa para rascar. Ainda bem que as aberturas fáceis não têm doenças sexualmente transmissíveis.
E os frascos de vidro com tampa metálica que deveriam fazer pop facilmente? Que vai de mão, vai de toalha, vai de alicante de abrir fácil que risca o pintado e não trava e depois chama-se o homem da casa e ele fica roxo de vergonha?
Para as aberturas fáceis não deveria ser necessário ser atleta olímpico.
Mas também há a vingança serve-se fria das máquinas, acontece com alguns pacotes de frios, fiambre ou queijo, daqueles intervalados por um, agora papelinho que amolecido pela humidade cola tanto como o produto. Adoro queijo amanteigado com isso ou o fiambre que rasga pelo papel ficando o resto do puzzle na embalagem.
Também adoro os pacotes de leite ou sumo “abre fácil” que exigem um doutoramento em engenharia de fluidos. Daqueles que ao rodares tem uma peça plástica perfura enquanto abre o pacote, quando passa por cima e não abre porque o plástico é mole ou quando trava e levantamos o bico de um lado e passamos a faca.
E o pacote de snacks que puxas os dois lados da embalagem plástica para abrir assim pelo, digamos selante mais rijo, e que pela força aplicada e o plástico de rasgar fácil explode as batatas fritas à nossa frente como se fosse daqueles tubos de confeites à pressão para festas.
Mas quem fala dos snacks dos humanos fala também dos gatos, daqueles que se rasga e fica o zip para fechar de novo, especialmente quanto a embalagem torceu na produção e a embalagem fica homossexual porque o macho não acerta no vinco da fêmea. Enrolas, e metes uma mola da roupa se não tiveres um stock dos grampos plásticos para tantas desventuras das aberturas fáceis.
Mas também há o fecho difícil, no milho da Venezuela que vem da Polónia, traz um autocolante para fechar de novo, o problema é conseguir que o milho na verta em cima do autocolante, senão vais ter que ter elásticos à mão ou de novo um grampo plástico.
Deixei para o fim os dois mais memoráveis, algumas embalagens de cu para cima dos molhos, especialmente ketchup, daqueles que a dobradiça plástica oferece mais resistência do que a saliência do clique de fecho e que quando vais sacudir para misturar a água na tona faz-te um risco na parede, no gato e na família.
Quem nunca se enrascou com falta de papel no porta rolos do WC? Por acaso fica tudo à mão, uma conquista, vamos para abrir a embalagem pela colagem a quente do plástico mas percebemos que foi tão quente que fundiu tudo. Vai dai, e aqui temos daqueles plásticos que se pica rasga fácil, metemos o dedo no rego das duas nádegas de dois rolos de papel, a coisa explode, os rolos saem-nos da mão e rolam, rolam, rolam para o poliban ainda molhado.
Se alguém conhece um desenhador de aberturas fáceis, metam-no numa cápsula do tempo. Sejam corajosos e contem as vossas desventuras na publicação do Facebook.