As indumentárias das super bactérias no nosso hospital. ⭐️


Uma mensagem para o desfile diário de moda.

Olá cara plataforma, peço a publicação do meu texto. No campo "informe-nos de pormenores" vai a razão, a qual não desejo ver publicada, não quero pessoalizar.

A qui vamos, o meu texto não é inocente no tema e no momento da sua escrita, o tema está a ficar banalizado conforme vão ocorrendo casos de pessoas que se vão tratar de uma maleita ou se submeter a uma cirurgia e acabam apanhando uma bactéria no hospital e acabam por falecer.

Quando entro no nosso hospital vejo incúria, olho para o seu aspecto, a tinta das paredes, o chão que é o mesmo da inauguração, o estado dos elevadores, o aspecto de uso intenso e de décadas das coisas, etc. Um olhar superficial. Depois sei, por fotografias de áreas onde não tenho acesso que parecem alguns hotéis mais antigos que uma coisa é à frente para o cliente e outra é atrás para os funcionários. Também sei que os renovados blocos operatórios têm bom aspecto e nada têm a ver com a generalidade do hospital. Algures, num dos andares quando vou pelas escadas, vejo uma área de esterilização.

Ando escrevendo do que vejo directamente, do que relatam por fotografia e agora vou ao que sei. Anónimos cidadãos comuns e conhecidos da praça têm falecido com bactérias multirresistentes, o foco é o hospital, onde entraram e não tinham e depois acabaram falecidos dela enquanto uma doença adicional lá adquirida.

A Madeira tem de facto censura cabeluda, tudo vale para proteger a política e não se compreende como é que gente com e sem estatuto não se revolta com as vezes que ouve falar de um falecimento por bactéria multirresistente, entre família, amigos, conhecidos e VIPS. 

Esta tragédia repetida, sem medalhas nem propaganda, é um espelho do fenómeno global e urgente das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS), em particular as causadas por microrganismos multirresistentes (MDR), também conhecidas como "superbactérias". No ambiente hospitalar, estas bactérias encontram o seu terreno fértil ideal. Desculpem o meu mais além, no nosso hospital é tragédia.

Quando falo de incúria é porque há um adicional às origens do problema, o que cria uma tempestade perfeita no ambiente hospitalar. O surgimento e a propagação destas bactérias assassinas não é acidental, mas sim o resultado de um conjunto de fatores complexos e interligados, que convergem perigosamente. Parece que por estarem a construir um hospital novo que toda a manutenção e atenção no antigo se relaxa.

É verdade que a montante está o abuso e o uso inadequado de antibióticos. O pilar da resistência antimicrobiana é o uso excessivo ou incorreto de antibióticos, tanto na comunidade (que leva bactérias já resistentes ao hospital) quanto dentro do próprio hospital. No entanto, não me sai da cabeça que gente que não abusa de antibióticos morre porque a bactéria é realmente super e deveria estar mitigada no meio hospital. Não vejo ações... por isso uso incúria.

Muitas vezes, evitando a identificação da bactéria usa-se um antibiótico de largo espectro, é uma acerto para a cura, ele mata a maioria das bactérias, e as que possuem alguma resistência genética sobrevivem e multiplicam-se. A utilização de antibióticos de "largo espectro" acelera este processo.

Os pacientes internados, especialmente em Unidades de Cuidados Intensivos (UTI), cirúrgicos, ou com doenças crónicas graves (como diabéticos ou imunodeprimidos), já estão com as suas defesas fragilizadas. É a vulnerabilidade dos pacientes hospitalizados, os que possuem um sistema imunitário comprometido, mas atenção, eu disse que este texto não era inocente, eu acrescento pessoas saudáveis que vão fazer uma cirurgia relativamente simples...

Onde é que esta tragédia começa? Nos procedimentos invasivos, ou seja, na utilização de dispositivos médicos essenciais, mas que quebram as barreiras protetoras do corpo, como cateteres venosos centrais, sondas vesicais e ventiladores mecânicos, que criam as portas de entrada diretas para as bactérias na corrente sanguínea ou nos pulmões. Portanto, a presença de "superbactérias" encontram o veículo... Mas se não existissem o hospital prosseguia as suas funções normalmente, até porque o problema nasce antes dos 50 anos do hospital, ops uma inconfidência.

Não estamos às cegas, é incúria porque não agem. O problema das "superbactérias" surgiu praticamente ao mesmo tempo que a própria era dos antibióticos, mas tornou-se uma crise de saúde pública nas décadas seguintes. O problema começou a ser detectado pouco depois do uso massivo da Penicilina. A Penicilina, o primeiro antibiótico moderno, foi descoberto em 1928, mas só foi produzida em larga escala para uso clínico durante a Segunda Guerra Mundial.

Dizem que não aprendemos nada com a Covid, querem ver? O acto mais básico, mas também o mais crucial, é a correta e rigorosa higienização das mãos pelos profissionais de saúde. A falha nesta prática é uma das principais vias de transmissão cruzada de bactérias de um paciente para outro ou de uma superfície para o paciente. Percebem o incúria a par do estado do hospital? Estas bactérias, têm uma elevada capacidade de sobreviver em superfícies hospitalares (maçanetas, equipamentos, etc.) por longos períodos, aumentando a oportunidade de contaminação. Só por curiosidade, quando foi renovado o piso de cortiça envernizada nos diversos andares do principal hospital. A um snack-bar são exigidas mais condições do que no hospital? Quem fiscaliza? Ninguém, e depois vem a camada da política e da censura. O hospital cheira a hospital, mas e cheira a limpeza? Para mim há falhas no controlo de infeção, prevenção, limpeza e desinfeção ambiental. Como é mesmo aquele segurança e higiene no trabalho... existe no hospital ou o snack-bar volta a ganhar?

Não quero vos desanimar, mas vou, vejam bem o que vão ler... a permanência prolongada dos pacientes aumentam exponencialmente a oportunidade de contacto e transmissão de microrganismos, mas o internamento prévio também é um factor de risco conhecido para colonização por MDR. Portanto, frequência e permanência, o fator estrutural e de sobrelotação... e o hospital novo é mais pequeno? Portanto vão importar a bagunça da gestão, da falta de pagamento atempado dos medicamentos e dos problemas das "superbactérias". Aquele homem que conhecemos tinha mesmo que ir "ver a máquina para o continente", ele sabe que investe o PRR em golfe em vez de condições na Saúde.

Não desanimem, o meu texto é mesmo para acordar. Em situações de elevado stress operacional, a vigilância e o rigor nos protocolos de controlo de infeção podem ser inadvertidamente comprometidos... certo? E o que existe no nosso hospital? Pois.

Já termino, como é que vai haver uma resposta institucional vigorosa e transparente a este problema com tanto medo que esconde a indignação, censura nos meios de comunicação social e governantes alheados? Não se trata apenas de tratar as infeções, mas de atacar as suas raízes, implementar programas rigorosos de gestão de antimicrobianos (stewardship), reforçar os protocolos de higiene e desinfeção, e, acima de tudo, garantir que cada vida que entra naquele hospital tenha a máxima proteção contra uma ameaça que é silenciosa, mas fatal. A omissão ou a passividade perante a repetição de tragédias é, ela própria, um problema de saúde pública que não pode ser ignorado.

Morre mais gente de bactérias do que de COVID? Para quando uma auditoria seria sobre o que se passa em vez de prémios de fachada? O meu texto não é inocente. Adeus amigo!

Vocês, Madeira Opina, têm que se aguentar. Percebem!?