A Madeira, em 2025, vive um momento peculiar. Não estamos a falar de uma crise económica ou de um acontecimento histórico que marcará o futuro. Não, estamos a falar do circo político em São Vicente, onde certos indivíduos, conhecidos pelos mais audazes como “os talibãs de São Vicente”, se acham moralistas e faróis de virtude cívica, enquanto ignoram convenientemente o espelho que lhes é colocado diante dos olhos. O grande problema é que, no momento em que começam a ser criticados, já não sabem onde enfiar a cabeça.
A hipocrisia que se faz sentir nestas bandas é digna de uma novela de mau gosto, onde a comédia da situação é apenas superada pelo drama do enredo. A verdade é que estes indivíduos, que antes vadiavam pelas ruas da aldeia a propagar boatos e calúnias, agora, quando recebem de volta o veneno que destilaram, choram lágrimas de crocodilo, como se o mundo estivesse a desabar sobre as suas cabeças. Não admira, por isso, que a nova liderança da câmara, formada por um grupo de arruaceiros cata-ventos, não consiga distinguir entre a crítica construtiva e uma simples reacção à sua própria confusão política.
É curioso verificar como, durante a campanha eleitoral, os “talibãs” de São Vicente se revelaram peritos em atacar e denegrir a imagem dos outros, com acusações infundadas, boatos venenosos e mentiras descaradas. Para eles, não havia limites. “Aceitem que dói menos”, diziam, como se o livre arbítrio de quem os ouvia fosse um crime de lesa-majestade. Mas a caixa de Pandora, quando aberta, não escolhe lados e está longe de ser uma brincadeira. O que parecia uma brilhante jogada política para esses mesmos “talibãs” está agora a virar-se contra eles como um bumerangue, e o impacto, como sempre, não está a ser nada agradável.
Talvez se tivessem parado para pensar antes de brincar com o fogo. A ironia do caso é que, ao longo da campanha eleitoral de outubro de 2025, muitos dos eleitores não se sentiram tão motivados pelas suas propostas, mas sim pela vingança contra a falta de Fernando Góis, o grande ausente da corrida. Se este tivesse sido candidato pelo PPD/PSD, é certo que hoje esses mesmos “talibãs” estariam a limpar as botas da oposição e a lamentar a sua falta de influência. Porque, convenhamos, se Fernando Góis estivesse na disputa, os “talibãs” estariam agora a cantar outra canção.
No entanto, o mais fascinante de tudo é o duplo padrão que tanto adoram sustentar. Acusam os outros de “tachos”, como se a moralidade e o civismo fossem a sua bandeira, mas não hesitam em dar uma voltinha pela máquina do poder assim que se sentem à vontade. Como diriam, no seu estilo tão peculiar: “Os fachos dos talibãs querem tacho!” Ah, a ironia de ser apanhado na própria teia que se ajudou a tecer. Estes mesmos que antes criticavam a máquina política e as suas influências, são agora os primeiros a agarrar-se ao poder como se este fosse uma tábua de salvação.
E há ainda uma crítica mais acutilante, que certamente os irritará ainda mais. A crítica ao estilo ortográfico. Pois é, nada irrita mais um “talibã” local do que ser acusado de cometer erros elementares na língua portuguesa. Porque, de facto, nada é mais ofensivo do que tentar atingir os outros com um conjunto de palavras mal escritas e frases que até um aluno do secundário se envergonharia de escrever. Mas, bem, como tudo neste grande teatro, também isso faz parte da ironia do momento. Afinal, como podem esses mesmos indivíduos pedir respeito e educação quando não são capazes de dar um simples exemplo de como escrever corretamente? A melhor piada do século? O ataque aos outros utilizando a ignorância como arma.
Se há algo que os vicentinos sabem bem, é que a verdadeira liberdade é o direito de exprimir opiniões, mesmo as mais ferinas. Eles, os “talibãs”, talvez se esqueçam disto ao tentarem silenciar os outros, quando o poder do discurso crítico é exactamente o que garante que o povo possa ser ouvido. Esta liberdade de expressão, que tanto preconizam para si próprios, é agora usada contra eles, e que pena, parece que não têm estômago para lidar com isso. Lamento, mas para eles, a liberdade dos outros parece ser uma incógnita. A própria noção de democracia parece passar-lhes ao lado, tal como o simples respeito pela pluralidade de opiniões.
E para concluir, nada melhor do que uma provocação final. Se os “talibãs” ainda acham que continuam a ser algo de relevante para a política local, que se preparem. Pois, na realidade, o povo vicentino está farto da hipocrisia, da mediocridade e da constante falta de honestidade. Em breve, o que os espera será o regresso ao seu lugar no grande palco da política, que, para eles, é um misto de comédia e tragédia. Não é difícil perceber quem serão os verdadeiros vencedores nesta luta pela moralidade. E não serão, com toda a certeza, os “talibãs” de São Vicente.
Viva a liberdade! Viva a democracia! Viva a crítica! E, por fim, viva São Vicente, que merece muito mais do que este espetáculo de falsidade.