Comunicado Fúnebre da “universidade-que-já-não-é”


É com uma lágrima no olho e um sorriso de ironia que anunciamos o falecimento iminente da outrora nobre instituição de ensino superior, agora reencarnada como Escola Profissional da Insularidade Aplicada.

As causas da morte são conhecidas: promoções baseadas no talento inversamente proporcional à competência, burocracia letal e visão estratégica tão ampla quanto uma lupa avariada.

Durante anos, a instituição resistiu heroicamente, lutando contra orçamentos de papel, projetos que nunca saíram do PowerPoint e planos de qualidade avaliados por quem nunca teve tempo para uma aula. Mas a seleção natural fez o seu trabalho: os mais incapazes chegaram ao topo, enquanto os competentes se foram embora ou, em casos mais tristes, continuaram a tentar dar aulas entre relatórios e comissões sem fim.

E assim, antes da jubilação gloriosa do seu timoneiro, eis a derradeira herança: a transformação da universidade em escola profissional, onde o “profissional” refere-se tanto ao ensino técnico como à arte de sobreviver num sistema que premia o conformismo.

Dizem as más-línguas que a agência de avaliação está a afiar as tesouras. Mas, não temam: a nova Escola Profissional promete formar especialistas em Gestão de Expectativas e Manutenção de Aparências Institucionais.

Descanse em paz, alma universitária.

Os PowerPoints continuam, mas o espírito académico já partiu há muito.

Chegará o dia que muitos parecem não querer ver a Universidade da Madeira está prestes a deixar de o ser.

Depois de anos a definhar em lentidão burocrática e mediocridade institucional, prepara-se a grande transformação: de universidade a escola profissional. Um desfecho em que a realidade combina com a prática.

Durante anos, observa-se que o problema não é falta de talento, mas sim o sistema de promoções invertido: quanto menos se faz, mais se sobe. Os que ensinam, investigam e pensam são vistos como insuficientes; os que nada produzem, mas dominam o palavreado da “lambe botas académica”, são recompensados com cargos e mordomias.

E assim, a universidade tornou-se o seu próprio experimento sociológico, um laboratório perfeito de como a incompetência organizada pode vencer a inteligência dispersa.

Agora, com a visita iminente da agência de avaliação, há quem finja surpresa: “Como é possível que este modelo esteja em risco?”

Uma instituição reduzida à versão decorativa de si mesma, com cursos transformados em módulos de sobrevivência e a ambição académica trocada por relatórios de Excel.

Em breve, o letreiro à porta mudará: de Universidade a Escola Profissional, agora sem pretensões de grandeza.

Parabéns aos estrategas do naufrágio. Conseguiram o que poucos fariam: matar o espírito universitário com regulamentos, comissões e autopromoção.

E ainda terão tempo de se reformar antes que o navio vá ao fundo.