Arrufos de deixar a pensar.


A "crónica"... “Sem Vergonha” de Miguel de Sousa e o editorial “Não nos vergamos” de Ricardo Miguel Oliveira só revela uma tensão clara entre poder político e liberdade de imprensa, com o Diário de Notícias no centro da controvérsia. Desculpe o Diretor, eu gosto desta polémica, para qualquer um que pise os calor na tal liberdade de imprensa. Já agora, meter juízo nalguns jornalistas que estão a dar cabo da imagem do DN-M.

Na crónica de Miguel de Sousa, “Sem Vergonha”, Miguel de Sousa escreve num tom duro e pessoal, apresentando-se como alvo de uma campanha ou “trabalho de oposição” movido pelo jornal. Denuncia o que considera ser uma postura persecutória do Diário de Notícias face a si e ao PSD-M. Para mim isto é novidade, mas acontece quando sente-se com "as patas em cima".

Argumenta que o jornal deixou de cumprir o seu papel informativo e passou a servir interesses políticos, praticando um jornalismo de ataque. Reitera que, apesar das críticas, mantém uma vida política e social ativa e que não se deixa intimidar.

O título “Sem Vergonha” é ambíguo, funciona como acusação direta ao jornal, e simultaneamente como forma de afirmar que ele próprio “não tem vergonha” de se defender. Usei a composição de imagens o que gera outra ambiguidade.

A crónica é um disparo frontal contra o jornalismo local, que o autor considera parcial, injusto e pessoalizado. Eu não consigo tirar por ninguém, isto é um processo "degradativo", mas liberdade de imprensa sempre, mas liberdade para todos!

O editorial de Ricardo Miguel Oliveira, “Não nos vergamos”, responde de imediato, e o tom é igualmente firme, defensivo, mas institucional. Defende a independência editorial do jornal e o seu compromisso com o rigor e a verdade. Aceito a teoria. Rejeita acusações de partidarismo e afirma que o DN “não se verga” a pressões, seja de políticos ou de empresários. É politicamente correto.

Sublinha que o jornal cumpre o dever democrático de escrutinar o poder, ainda que isso desagrade a quem o exerce. O título “Não nos vergamos” é uma resposta simbólica e quase desafiante ao ataque de Miguel de Sousa, aguardo para ver o alcance, quero acreditar. Muitos madeirenses esperam, é a melhor promoção do jornal.

O editorial tenta recentrar o debate no papel da imprensa livre, afirmando a legitimidade do DN em fiscalizar figuras públicas, independentemente de sensibilidades partidárias. É politicamente correto, vamos à prática.

Miguel de Sousa vê o jornal como instrumento político hostil, um agente que ultrapassa o jornalismo e entra na arena partidária. O Diário de Notícias, pela voz do seu diretor, responde que apenas cumpre a sua função democrática de questionar o poder e não ceder a intimidações. Em termos simbólicos, o episódio é mais do que uma troca de acusações, é um sintoma da fragilidade da relação entre política e imprensa regional. Mostra como, numa realidade insular e interligada como a madeirense, a proximidade entre jornalistas e políticos torna o equilíbrio entre crítica legítima e ressentimento pessoal extremamente ténue. Síndrome "patas em cima".

Miguel de Sousa acusa o jornal de militância disfarçada, eu gostaria que precisasse qual em concreto porque se calhar traz novidades que não sabemos. O jornal responde com a bandeira da liberdade de imprensa. O público, no meio, fica entre a desconfiança em relação ao poder político e a dúvida sobre a neutralidade mediática. O que se está a passar? Miguel de Sousa está a aproveitar a situação para um outro plano? É que tenho lido bocas no Madeira Opina e só me vem isso à memória. A dependência cria precedentes com custos.

Se o DN acordar, acredito que terá a opinião pública do seu lado, se quiser, este é o momento de virar a página.