H á números que valem por si. E depois há sondagens que valem por aquilo que nos fazem rir. A última, publicada pelo JM, é um bom exemplo da segunda categoria. Segundo o estudo da Intercampus, com a “impressionante” amostra de 403 entrevistas, o PSD liderado pelo carismático Jorge Carvalho — esse homem de tal dinâmica que ao pé dele uma mosca morta parece uma pulga hiperativa — estaria prestes a conquistar seis vereadores na Câmara do Funchal. MAIORIA ABSOLUTA, grita o JM!
Vejamos: 403 entrevistas, uma taxa de resposta de 68,5%. Ou seja, 275 pessoas responderam. E dessas, 25% estavam indecisas — lá se vão mais 69. Sobram 206 pessoas que disseram saber em quem vão votar. E desses 206, 32% (ou seja, uns gloriosos 65) disseram que votariam no PSD. Sessenta e cinco pessoas. Repito: sessenta e cinco. É com base nisto que se fala em “maioria absoluta à vista”. Já percebemos porque o JM não indica a intenção de votos por número de pessoas. Era aborrecido a manchete ser " MAIORIA ABSOLUTA DE 65 RESISTENTES", em vez do título motivador, de hoje.
E não é estranho que JPP e Chega surgirem com quedas abruptas relativamente às últimas eleições? É do grande carisma e capacidade mobilizadora do Carvalho Tsé Tsé, claro.
Será que o JPP está pior que nas regionais? E o CHEGA pior que nas nacionais? Que magia é esta que diminuiu para um vereador cada estas duas forças políticas, quando nas sondagens internas cada uma delas tinha 2 ou mais vereadores?
A leitura política do estudo é, no mínimo, criativa: de 403 inquiridos, 65 preferem o PSD; 341 não disseram isso — mas a manchete já grita vitória. 84% das pessoas que foram questionadas não disseram que queriam votar em Jorge Carvalho e no PSD! É a magia da estatística transformada em fé jornalística.