A RTP Madeira voltou a um dos seus números favoritos: anunciar estágios como quem oferece caridade. E o jornalista que publicou o anúncio fala do alto de um púlpito moral, como se fosse arauto da ética profissional. Explica que é “responsabilidade social da empresa”, que o objetivo é “proporcionar experiência a jovens licenciados”. Tão bonito no papel, tão cínico na prática.
Mas convinha lembrar-se dos anos 90, no Porto Santo, muitos lembram-se de certas “excursões” culturais a lugares altos, com vistas bonitas… e intenções menos claras. O tempo passa, e há quem hoje fale de ética profissional com o mesmo ar de quem nunca olhou para trás.
Basta entrar nas instalações para perceber o retrato fiel do que ali se passa. Um bar barato, mas sem qualidade. Uma cantina que serve comida barata, mas sem qualidade. Maquilhadoras mais interessadas na vida alheia do que em trabalhar com categoria, até já usam maquilhagem do chinês e conversam como se estivessem no beco mais manhoso da cidade. Os bastidores estão degradados, sem alma, sem brilho, sem dignidade.
Quem trabalha na produção vive de favores e trocas: convites em troca de vouchers, estadias de hotel, massagens em spa, “gentilezas” e pequenos poderes.
É o modus operandi na BBC… da Quinta Josefina.
Uma paródia de si mesma, com realizadores que se acham De Sica, apresentadores que se pensam Orson Welles e jornalistas que recitam ética como quem decora um panfleto de catequese.
Nos comentários do Facebook, o povo não perdoa:
- “Quantos alguma vez ficaram?”
- “É uma estação que não precisa de funcionários, contrata no exterior e perde em tribunal.”
- “Quando é que a RTP Madeira vai ter jornalismo de investigação?”
O problema é esse: não há jornalismo, há encenação. E há quem fale de ética, mas nunca teve coragem de olhar-se ao espelho. A RTP Madeira é hoje um espelho partido de si mesma. Entre a vaidade e a irrelevância, vai sobrevivendo à custa de estagiários, de slogans, de artistas a borla e de uma arrogância institucional que confunde função pública com poder pessoal.
Basta atravessar os corredores para sentir o perfume do declínio, obsolescência.
É o quadro de uma ilha onde a televisão pública esqueceu o público, um eco vazio da própria futilidade.