A inveja é o desporto nacional não declarado. Move conversas, alimenta rumores e disfarça frustrações sob o pretexto da moralidade. Onde falta mérito, sobra maledicência, e onde não há progresso, há sempre alguém a torcer para que ninguém avance.
Adoro a generosidade dos invejosos. São os únicos beneméritos que distribuem veneno gratuitamente. É reconfortante saber que, em tempos de austeridade emocional, ainda há quem ofereça maledicência como se de um subsídio se tratasse. A inveja, afinal, é o único serviço público que funciona sem falhas nem greves. Continuem a destilar toxinas, a minha imunidade social está em alta e o vosso ódio é o meu suplemento vitamínico.
Na Madeira, o lucro é um animal exótico: só sobrevive em quintas privadas e alimenta-se de exclusividade. A “Lei do Lucro Madeirense” é simples, uns enriquecem, os outros aplaudem. É o famoso capitalismo de claustro, onde a prosperidade é hereditária e o mérito tem um apelido. Criámos uma Reserva Natural de Riquez, apenas certas espécies empresariais têm licença para prosperar. O resto vive sob observação, para não perturbar o ecossistema oligárquico. Aqui, o lucro é líquido sagrado, mas só corre nas torneiras certas.
A matemática social é outra maravilha local: se eu não ganho, tu também não devias. É a aritmética da mediocridade, onde o fracasso é um desporto coletivo. A filosofia é simples, o vizinho não pode ter sucesso, porque isso ofende o equilíbrio universal da inveja. E assim nasce o socialismo da ruína: todos iguais, mas igualmente falidos. O invejoso típico não deseja prosperar, deseja companhia na decadência. Torce pela falência alheia com a mesma paixão com que outros torcem por clubes de futebol.
Mas atenção, a inveja moderna já vem com manual de etiqueta. Chama-se “crítica construtiva”, embora a única coisa que constrói sejam ressentimentos. É elegante, veste moralidade e finge preocupação. “Eu só digo isto pelo teu bem”, dizem, enquanto preparam a eutanásia da tua reputação. O invejoso é o novo filantropo emocional: doa ressentimento, exige reconhecimento e reclama IVA da tua felicidade.
A inveja é o reality show da alma. Todos assistem, poucos admitem. É feia, sim, mas de uma fealdade artística, uma espécie de cubismo moral. Dá-se bem com o espelho, desde que o espelho minta. Há quem a confunda com sentido crítico, outros chamam-lhe “justiça poética”. No fundo, é apenas a confissão disfarçada de quem não suporta ver outro brilhar.
Por isso, um brinde, não aos vencedores, mas aos invejosos persistentes, esses mártires da comparação crónica. Continuem a espumar, queridos. O vosso veneno é o perfume da minha vitória.
No final, a inveja não destrói quem é alvo, mas sim quem a sente. É o veneno que o invejoso bebe à espera que o outro morra, e depois pergunta porque é que a vida continua injusta.
