O Alojamento Local não é o monstro que alguns querem pintar. Vamos ser claros: AL é gente comum a ter um bocadinho de lucro num sistema que só costuma servir os poderosos. E é por isso que certos hoteleiros fazem tanto barulho — perderam o exclusivo e não gostam nada disso. A ilha não é deles.
O que eu defendo é simples: basta de conversa fingida. Não precisamos de sermões moralistas. Precisamos de regras, fiscalização e coragem política. Mas coragem a sério, não aquelas frases vazias de quem só quer parecer bem na foto.
O problema da habitação não é o turista que vem cá gastar dinheiro. O problema é a especulação sem vergonha, as casas fechadas à espera de subir de preço, os terrenos parados por décadas, e o costume nojento de empurrar sempre o custo de vida para cima do povo. A culpa nunca é do monopólio. A culpa é sempre “do AL”. Conveniente, não é?
Eu não compro essa história. E ninguém devia comprar.
Vamos definir isto de forma simples: Alguém que arrenda a sua casa não é o culpado pela crise. O culpado é quem manda e não mexe um dedo para travar os tubarões.
E aqui vai o ponto que os “especialistas de bolso” não querem ouvir: existem soluções técnicas. Já estão estudadas, testadas e usadas por cidades pelo mundo fora. Regulamentar? Fácil. Licenciar? Fácil. Limitar zonas? Fácil. Criar habitação social? Fácil… se houver vontade.
Mas vontade é coisa que falta. Vontade de regular. Vontade de fiscalizar. Vontade de enfrentar os intocáveis desta terra.
É sempre mais simples gritar contra o AL, enquanto o monopólio hoteleiro engorda, manda, e ainda posa de vítima. A velha estratégia: apontar o dedo ao pequeno para esconder o gigante.
Eu digo basta.
Madeira não precisa de perseguições cegas. Madeira precisa de pluralismo económico, regras com dentes, e líderes que saibam gerir — não vendedores de imagem que fogem da responsabilidade como o diabo foge da cruz.
E sim, amar a Madeira é isso mesmo: planeamento, justiça, e espaço para todos. Não é odiar quem visita. Não é atacar quem luta para pagar as contas. É enfrentar quem controla o jogo nas sombras.
Por isso digo:
Ocupemos o espaço. Gritemos mais alto. Que acabe o teatro do “inimigo errado”.
Porque este povo já percebeu quem lucra com o caos — e quem paga a conta.
