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| O Pensador, de Auguste Rodin, na Porta do Inferno. |
N a Madeira, a criatividade institucional é um talento regional. Há quem toque braguinha, quem faça bordado… e depois há os mestres da arte de nunca perder o lugar, mesmo quando tecnicamente já não estão lá. É um dom, quase património imaterial.
O truque é simples, sai-se pela porta da frente, entra-se pela porta do lado, de preferência, uma porta bem perto da Câmara do Funchal, não vá a influência arrefecer com a distância. Nada de exageros, duzentos metros a mais e já se corre o risco de trabalhar sem saber o que está a acontecer lá dentro.
E claro, para manter o cenário perfeito, basta plantar um novo “responsável” na vereação. Um rosto simpático, dócil, bom de acenar com a cabeça. Alguém que cumpra a função essencial, aquecer a cadeira enquanto o verdadeiro maestro ex vereador João Rodrigues continua a reger a orquestra do lado de fora.
É uma engenharia admirável. Uma espécie de outsourcing político-emocional. Tudo legalíssimo, tudo asseado, tudo com grande sentido de continuidade, porque na Madeira nada se perde, tudo se transforma…
O Jorge Carvalho Presidente da camara, consente claro. Uns riem, outros suspiram, outros apenas admiram a ousadia. Afinal, há quem abra empresas para inovar, há quem abra empresas para criar emprego… e depois há quem abra empresas para continuar exatamente o que sempre fez, só que com vista privilegiada para o mesmo edifício onde antes trabalhava.
Chama-se a isso “empreendedorismo de proximidade”. Ou, para os mais românticos, a eterna arte de mandar sem parecer que se manda. Mas, não esquecer Carvalhinho, que se a policia judiciária entrar pela câmara a dentro novamente, quem vai para a cancela não é o Joãozinho, nem o Paulinho. É o Jorginho.
