Os melhores não são os que sabem mais; são os que sabem agradar mais.

N a Madeira, muitos sentem na pele esta regra não escrita, os melhores nem sempre são os que mais sabem, mas os que melhor sabem agradar. Não é novidade para ninguém. Vê-se nas instituições, nos empregos, nos pequenos círculos onde decisões importantes se tomam em voz baixa. Há uma espécie de teatro permanente onde a competência importa menos do que a capacidade de sorrir no momento certo, concordar com quem manda e fingir que tudo está bem.

A mediocridade, quando aparece vestida de obediência, passa por virtude. E ser considerado “um bom aluno”, “um bom funcionário” ou simplesmente “uma pessoa aceite” muitas vezes significa isto: ser alguém que não cria problemas. Que não questiona. Que não desafia. Que aplaude antes de perceber. Que desvia o olhar quando a injustiça se instala. Muitos madeirenses conhecem bem essa sensação de viver num lugar onde a coragem de pensar pela própria cabeça é tratada quase como uma ousadia desnecessária.

E isso cansa. Cansa porque quem não se dobra, quem não cede, quem não gosta de fazer vénias, acaba por pagar um preço, seja ficando para trás, seja sendo visto como inconveniente. A ilha tem esta contradição permanente: é um lugar de gente trabalhadora, talentosa e resistente, mas onde tantas vezes o mérito perde terreno para as relações, para as simpatias bem colocadas, para o jeitinho de agradar às pessoas certas.

E assim o mundo, e a Madeira, parecem pertencer sempre aos que se curvam na altura certa. Os outros? Ficam de fora. Observam. Tentam manter a consciência limpa. Tentam não se arrepender por não terem seguido o jogo. E, no fundo, carregam uma esperança, a de que um dia o valor de alguém não se meça pela capacidade de se calar, mas pela coragem de continuar inteiro num lugar que tantas vezes recompensa quem se dobra.

Sonho com uma Madeira em que quem está em posições de liderança se rodeie de pessoas que a questionem, que a desafiem, que a contradigam.