Direito de resposta aos comentários... (turismo)


Quando a histeria se torna política e a desonestidade se torna método.

H á um padrão previsível, quase cómico, nos comentários que circulam sobre turismo e trilhos na Madeira: muito grito, pouca lógica; muita espuma, nenhuma água. A receita é sempre a mesma: acusações vagas, ataques pessoais gratuitos, dramatizações apocalípticas, e uma absoluta incapacidade de distinguir factos de frustrações. É o populismo-transformado-em-desabafo, embrulhado numa indignação tão performativa que chega a ser ornamental.

O argumento central é um caos conceptual, ora a Madeira está destruída pela massificação turística; ora nunca se devia tocar num único talo de urze; ora todos os acidentes se explicam por “imprudência”; ora, afinal, é o Governo que deve proteger cada imbecil com uma xuxa e um guia. E no meio deste carnaval lógico, surge sempre o mesmo moralismo indignado: “o autor é do sistema”, “os jornais estão de rastos”, “isto é tudo negociata”. É a velha teoria conspirativa reciclada para Facebook, mais ruído que raciocínio.

A ironia é esmagadora: chamam “delirante” qualquer proposta de modernização ou gestão rigorosa, mas defendem que tudo se resolve com nostalgia. “Antes não havia betão.” Pois não, também não havia milhares de caminhantes, voos low-cost, apps de rotas, nem selfies pendurados em precipícios. O mundo mudou. A ilha mudou. Fingir o contrário é romantismo irresponsável.

A crítica à construção de infraestruturas é particularmente caricata: “cimento é inacreditável!” Como se a alternativa fosse uma manta mágica de urze anti-acidentes. A verdade simples, demasiado simples para o folclore indignado, é esta: onde há fluxo humano, é preciso segurança. Sem dramatismos. Sem misticismos ecológicos de ocasião. Sem a fantasia infantil de que a natureza cuida de tudo desde que ninguém lhe toque.

Mas o ponto mais revelador é outro: muitos destes moralistas não querem soluções; querem armas para alimentar ressentimentos. Quem grita mais alto contra “o sistema” é, muitas vezes, quem menos quer ver políticas públicas sérias. É mais fácil acusar do que pensar. É mais cómodo culpar o cimento do que admitir que responsabilização individual existe, e pesa.

O debate público merece melhor do que este teatro de indignação barata. A Madeira não precisa de delírios reciclados, nem de guerrilhas de Facebook mascaradas de consciência cívica. Precisa de inteligência, planeamento, rigor técnico e maturidade política.

E, sobretudo, precisa de algo que os arautos do caos jamais oferecem: honestidade intelectual.