![]() |
| Link da Notícia |
N a Madeira, até encontrar cadáver já se tornou um negócio de iniciativa privada. Desta vez, foi um guia madeirense, daqueles que ainda acredita que a montanha é de todos, quem encontrou o corpo do turista desaparecido, acompanhado por uma equipa de resgate contratada pelos amigos e pela família da vítima. Sim, leste bem: contratada. Porque aqui, a morte também é um serviço externo.
Enquanto isso, o Governo Regional, sempre atento ao que realmente importa (as selfies nos miradouros e os discursos sobre “turismo de excelência”), parece ter descoberto o episódio ao mesmo tempo que o resto dos mortais: pelas redes sociais. O secretário Eduardo Jesus, talvez a pensar que o turista tinha apenas ido fazer “turismo de natureza prolongado”, ainda deve estar à procura da melhor forma de associar o acontecimento à “marca Madeira”.
E o Instituto das Florestas? Provavelmente a afinar o mapa das levadas no PowerPoint, ou a ponderar se o cadáver devia ter pedido licença prévia para se perder em zona protegida.
Na prática, quem atuou foram os de sempre, os que conhecem a serra, o terreno e o perigo, mas que raramente aparecem nas fotografias oficiais.
No final, a história resume-se bem: o governo fala de segurança, o Instituto fala de prevenção, e quem trabalha fala de realidade.
E enquanto os comunicados se redigem e os hashtags se preparam, o guia madeirense — esse, de botas sujas e consciência limpa, deve estar a pensar que, na Madeira, até para morrer é preciso ter um bom plano turístico… e um orçamento à parte.
A Madeira é um destino turístico cinco estrelas, até para morrer…
Na Madeira, até os mortos têm de recorrer ao setor privado. O cadáver de um turista foi encontrado por um guia madeirense e uma equipa de resgate contratada pela família, sim, contratada, porque pelos vistos os serviços públicos estavam em pausa para uma “reflexão estratégica sobre a segurança nas levadas”.
Mas há que dar mérito ao guia madeirense, o verdadeiro herói desta história: um homem que, sem gabinete, sem conferência de imprensa e sem patrocínio, encontrou o que as autoridades nem sabiam que estavam à procura. E tudo isto sem precisar de um subsídio europeu nem de uma nota de imprensa do Governo.
No fundo, este episódio resume a essência da Madeira moderna: o governo faz comunicados, o Instituto das Florestas faz PowerPoints, e quem realmente trabalha… encontra cadáveres.
E o turista? Coitado, foi o único que acreditou na “Madeira segura” das brochuras oficiais.
Mas há que ver o lado positivo: o resgate foi rápido, eficiente e — claro — pago. Porque aqui, até a morte é um serviço premium.
