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| Foi tudo para o golf? |
E m setembro passado, o Funchal Notícias publicou uma reportagem que retratava com clareza o caos no atendimento do IASAÚDE: utentes desesperados, funcionários indiferentes e processos que pareciam presos no tempo. A notícia, publicada a 16 de setembro de 2025, pode ser lida aqui:
O caso relatado era, por si só, revelador: uma simples máquina que lê o Cartão de Cidadão deixara de reconhecer os novos modelos, impedindo o atendimento célere. Mas o que mais chocava era o tratamento dado aos utentes, pessoas doentes, vulneráveis, que se sentem tratadas como números. Um retrato duro, mas real, de como uma instituição pública da área da saúde pode falhar no essencial: o respeito pelo cidadão.
Meses passaram. E a pergunta impõe-se: mudou alguma coisa desde então?
A resposta, olhando para o que se vê e lê nos últimos dias, é desanimadora. Em vez de sinais de eficiência, multiplicam-se nas redes sociais posts e declarações que mostram um IASAÚDE mais preocupado com a sua imagem do que com os problemas que os cidadãos enfrentam diariamente. Veja-se, por exemplo, esta publicação recente no Instagram, que, longe de demonstrar soluções, apenas reforça a sensação de que há tempo para gerir redes sociais, mas não para resolver falhas crónicas de atendimento e reembolsos que se arrastam por meses.
Recentemente, o próprio diretor da área de informática veio reforçar a aposta na presença online da instituição, procurando dar mais visibilidade ao IASAÚDE nas plataformas digitais. É uma iniciativa que poderia ser positiva — se não soasse deslocada num contexto em que o essencial continua por resolver. Porque o que a população realmente precisa não é de mais publicações, mas de menos burocracia, mais rapidez e maior empatia no atendimento. Antes de comunicar eficiência, é urgente que o IASAÚDE a pratique.
É certo que o instituto tem procurado divulgar melhorias, mais beneficiários, campanhas de prevenção, novas aplicações digitais. Tudo isso seria meritório, se viesse acompanhado de resultados concretos. Mas a realidade que continua a chegar ao público é outra: dificuldades de contacto, respostas tardias, procedimentos labirínticos e uma sensação generalizada de falta de sensibilidade no atendimento. A cada mudança de direção, o discurso muda, mas a prática permanece igual.
Não se trata de um mero problema administrativo. Estamos a falar de cidadãos — muitos deles idosos, doentes ou com limitações — que dependem de reembolsos para adquirir medicamentos, pagar tratamentos ou cumprir terapias. Quando o sistema falha, o prejuízo é humano, não apenas burocrático.
E quando o cidadão sente que está a implorar por algo que lhe é devido, o Estado deixa de cumprir o seu papel de garante de direitos e passa a ser visto como um obstáculo.
É por isso que não basta o IASAÚDE mostrar números ou campanhas. O que importa é como trata as pessoas. E enquanto os relatos de mau atendimento e de demoras persistirem, a instituição não poderá reclamar sucesso. É tempo de menos “posts” e mais resultados, menos justificações e mais soluções. A transparência não se mede em fotografias de eventos, mas em indicadores públicos: tempos médios de resposta, percentagem de reembolsos processados em prazo, volume de reclamações resolvidas.
As chefias do IASAÚDE, presentes e passadas, têm de assumir responsabilidade. Não basta culpar sistemas informáticos ou mudanças de cartão. Se, ano após ano, se mantêm as mesmas falhas, então o problema não é técnico, é estrutural, é de gestão e de liderança. E, como tal, exige uma resposta política clara e corajosa.
Enquanto isso, o cidadão continua à espera, não de promessas, mas de respeito.
Porque no fim de tudo, a saúde pública mede-se pela forma como trata os mais frágeis.
E quando as instituições se preocupam mais com a aparência do que com a essência, o diagnóstico é simples: o sistema está doente.
