O “Excesso de Turismo” é um mito, o excesso é de desinformação.


A ideia de que “a Madeira tem excesso de turismo” tornou-se o slogan preferido de quem confunde perceção com realidade. É uma tese fácil, dramática e politicamente útil, mas não sobrevive a cinco minutos de análise séria. O que existe são pressões pontuais em locais muito específicos e em horários muito concretos, exactamente como acontece em qualquer destino turístico de sucesso. O resto da ilha, a esmagadora maioria, continua tranquila, operacional e perfeitamente capaz de receber quem nos procura. Daí até declarar “saturação estrutural” vai um salto lógico que só se explica por desconhecimento ou má-fé.

O verdadeiro problema não é o número de turistas, é a ausência de investimento continuado nos pontos mais procurados. Onde há procura, a solução é conhecida e universal: criar condições. Parques de estacionamento multipisos, inclusive subterrâneos e ajardinados, reforço das acessibilidades, pavimentação adequada, trilhos modernizados, sinalização clara, barreiras de segurança e infraestruturas robustas. Tudo isto existe em destinos que realmente sabem gerir turismo. Recusar estas soluções por fetichismo anti-cimento não é ambientalismo: é negligência mascarada de virtude. E essa negligência custa segurança, custa reputação e custa valor económico.

Comparando internacionalmente, o fluxo turístico da Madeira é modesto. As Canárias, Baleares, República Dominicana, Turquia, Marrocos ou Egito recebem volumes que fazem a Madeira parecer uma nota de rodapé. Falar em “excesso” aqui é distorção pura, e perigosa. Porque a Madeira compete num mercado global onde nada é garantido. A pandemia já provou o quão rápido os turistas podem desaparecer.

Por isso, respeitar e acolher bem quem nos escolhe não é submissão, é visão estratégica. É perceber que cada visitante que chega ajuda a pagar salários, serviços públicos, impostos, empresas e rendimento. É perceber que a Madeira não tem um problema de “demasiados turistas”; tem um problema de demasiado ruído e pouca análise.

A conclusão é simples e devastadora para quem insiste no alarmismo: o turismo não está a mais. O que está a menos é rigor, planeamento e honestidade intelectual. Quem repete que “a Madeira está cheia” devia primeiro encher-se de factos.