A narrativa de que a Madeira sofre de “excesso de turismo” continua a ser distorcida por quem prefere culpar os visitantes em vez de reconhecer falhas estruturais. Os comentários recentes são um exemplo clássico: misturam acusações pessoais, simplificações e generalizações para desresponsabilizar os gestores públicos e ocultar a verdadeira raiz do problema.
Comecemos pela análise lógica: os comentários assumem que o turismo causa caos imediato, mas ignoram evidências claras de que os pontos críticos são localizados e temporais. É um ataque baseado em percepção emocional, não em dados. A inferência é inválida: a conclusão de que há “excesso” decorre de premissas exageradas e não verificáveis.
A incoerência salta à vista quando se comparam fluxos turísticos da Madeira com outros destinos internacionais: a ilha continua modesta em números, e os problemas mencionados, estacionamento, lixo, pressão imobiliária, derivam de planeamento insuficiente, não de saturação estrutural. A argumentação é auto-contraditória: queixam-se de turismo intenso ao mesmo tempo que admitem que “não estava tudo lotado a toda a hora”.
Os comentários falham ainda na justificação. Atribuir a culpa à “promoção desenfreada” ou a “secretários incompetentes” sem apresentar dados ou soluções concretas é argumentação fraca, baseada em suposições e ressentimento político. Não há causalidade comprovada; apenas narrativa emocional.
Quanto à conceptualização, termos como “populismo”, “maturidade” ou “honestidade intelectual” são usados de forma vaga e manipuladora, servindo mais para atacar pessoas do que para discutir políticas públicas. Isto demonstra confusão conceptual, que por si só invalida a credibilidade dos argumento.
Por fim, tentar usar estes comentários como análise séria é um erro. Não há como provar que a ideia do “excesso de turismo” está errada. Por isso, isto é só uma ideia forte (dogma), e não uma razão. O dogma não deve estar nas nossas conversas (debate cívico).
A lição é clara: o problema do turismo na Madeira não é excesso de visitantes, mas falta de planeamento, de infraestruturas e de gestão. Criticar turistas enquanto se ignora o próprio fracasso estratégico é uma falácia de desvio. Reconhecer erros de organização, investir nos pontos críticos e respeitar quem escolhe a Madeira é o caminho para preservar a atratividade do destino e proteger a prosperidade da região.
