Turismo da Opinião.

A nova forma de exílio cívico e a incoerência ambiental de luxo.

C aríssimos turistas da opinião – e sim, é disso que vos chamo – do exterior do concelho, que alívio! O Município de São Vicente não só vos agradece a intervenção democrática à distância, como a exige. Continuem a mandar cá para dentro, nós fazemos o favor de não ouvir quem paga IMI. Sejam bem-vindos ao nosso circo opinativo!

O Município de São Vicente não precisa da opinião dos residentes. A sabedoria só é válida se provier de fora do concelho. Quer dizer que, para termos voz, temos de mudar a morada? O GPS da democracia está avariado. A Câmara de São Vicente só valoriza a opinião turística. Moradores: a vossa voz é inválida até que se mudem para fora e regressem para dar palpites. É uma nova forma de exílio opinativo. Brilhante estratégia! Pelo que percebi, para o executivo, a opinião local é como lixo reciclável: não serve para nada. Só a de quem vive a 50 km é que tem peso de ouro. A única forma de participar é fugir e voltar como um guru.

A Hipocrisia Eco-Chique:

Não se compreende! O ambientalismo devia ser viver na gruta, e não na Penthouse. Se não dão o exemplo a lutar contra o cimento vivendo numa toca, então são só propagandistas de design. Queremos ver a teoria na prática, lá no alto!

É que defender a Terra de um apartamento de luxo com vista para a cidade parece mais um hobby caro do que um exemplo a seguir. Onde está o sacrifício? Ambientalistas em apartamentos de luxo? Isso não é dar o exemplo, é fazer turismo de aventura ao fim de semana. Queremos ver a coerência na caverna. Não há nada mais «verde» que a hipocrisia.

A sério, porquê casas de luxo? Deviam estar a colher o próprio musgo para o jantar! Se o objetivo é o regresso à natureza, o teto de betão não é coerente. É a hipocrisia do eco-chique em todo o seu esplendor.

Protestos a Diesel: Incoerência Motorizada:

No meu concelho, a regra é clara: só aceitamos protestos ambientais feitos por quem veio a pé, de barco a remos, ou a nado. Quem chega em carroças a diesel para lutar pelo clima é pura hipocrisia poluente. Favor deixar o fumo lá fora!

Os ambientalistas que vieram de jipão a gasóleo protestar contra a poluição que se apresentem na secretaria. Só é permitido o protesto se vierem de bicicleta de madeira ou a cavalo, desde que o cavalo não tenha emissões poluentes. Queremos coerência na hipocrisia!

Aqui, o certificado de autenticidade ambientalista exige que se chegue exausto e sem queimar combustíveis fósseis. Quem veio em motor a gasóleo devia era protestar contra o próprio carro. É o pico da incoerência com escape a fumegar! Se o protesto ambiental cheira a gasóleo, é inválido. O bilhete de entrada para o ativismo sério é o barco a remos ou a solidez dos pés. Façam o favor de ir a pé!

Entre a surdez democrática e o ambientalismo de vitrine, São Vicente tornou-se um espelho perfeito do absurdo moderno: todos opinam, poucos escutam — e ninguém pratica o que prega.