A antiga equipa da Câmara do Funchal, liderada por Pedro Calado…


Q ue saudades dessa telenovela político-administrativa, cheia de episódios especiais, suspense, entradas dramáticas e aquela palavra que virou trending topic regional, arguido. Nem a Netflix teria coragem de escrever personagens tão cheios de “criatividade financeira” e “entusiasmo urbanístico”. Foi uma época dourada para quem aprecia obras, promessas e investigações a acontecer tudo ao mesmo tempo.

E agora, quando olhamos para a equipa atual, é impossível não sentir aquela energia de “faxina cuidadosa”.

Sabe aquela sensação de quando tens visitas a chegar e começas a enfiar tudo para dentro dos armários, limpar as manchas da parede com a manga da camisola e fingir que a casa sempre esteve impecável?

Pois. É essa vibe.

A nova equipa anda com aquele ar disciplinado de quem recebeu a herança de uma dispensa cheia de tralha e agora tenta descobrir o que é lixo, o que é bomba-relógio e o que é só papelada misteriosa deixada num canto como quem diz “depois logo vejo”. Estão ali, de luvas metafóricas, a varrer, a aspirar, a fechar gavetas devagarinho não vá cair alguma surpresa que tenha ficado mal escondida. Até abrem empresas mesmo ao lado para continuar a tratar dos mesmos projectos ilícitos.

Convenhamos, gerir a Câmara depois da equipa anterior deve ser parecido a arrumar um armazém abandonado, há teias, há caixas sem rótulo, há buracos no chão e uma espécie de silêncio comprometedor.

E compare-se isto com a antiga gestão, que adorava inaugurar obras como quem abre pacotes de cromos, sempre com aquele sorriso confiante de quem acha que nada de mal vai acontecer, mesmo quando a novela já está com vinte episódios de “developing”.

A verdade é que a política na camara do Funchal deu-nos duas temporadas brilhantes. A primeira, cheia de entusiasmo construtivo e investigações à mistura, e a segunda, onde entra a equipa do Carvalho a tentar perceber onde é que estão as pontas soltas, para ver se ainda dá para costurar alguma coisa antes que rebente mais um capítulo inesperado.

Será uma série longa. 

Com várias temporadas.

E nenhum argumento totalmente fechado. Estamos curiosos para ver a dupla Jorge Carvalho e Carlos Rodrigues como personagens maus que prometem enviar para o fundo do mar quem não concorda com eles…