Reduflação no papel higiénico

 



Nota prévia sobre as imagens. O que vou dizer será mentira, porque fazem para ser mentira, mas faço a minha leitura e explico, depois cada um que vai ao supermercado que tire as suas ilações pelo que vê e sabe. A embalagem azul é a antiga, a verde é a nova que substitui a anterior, até porque não há nas prateleiras uma equivalente de 4 rolos. Vai com 6 e é um engano, na quantidade e no preço, até porque ninguém sabe o que é um rolo base. Super compacto de facto passou a compacto, 4 dava 12 rolos, agora 6 dá os mesmos 12, mas faz mais volume e a malta sabe como é irritante levá-los. É o mesmo produto, a mesma quantidade, você leva mais rolos mas é a mesma coisa, leva mais volume e preço.

Reduflação (ou Shrinkflation)

D urante a Covid falaram no papel higiénico como situação cómica, o que numa situação de pandemia as pessoas valorizavam. Muitos se esqueceram de alguns pormenores do papel higiénico, era o mais barato e dá para mais situações do que o propósito principal.

Hoje regresso ao papel higiénico.

Estava habituado a comprar uns rolos de papel higiénicos compactos do Continente, bom produto, agora mudaram de imagem, mantém a inscrição, está mais caro e vem menos papel. Há muita forma de "roubar" e fazer dinheiro, os supermercados portugueses disputam o campeonato do chico-espertismo de roubar elegantemente. O problema é que não se ouve a ARAE fazer nada! Mas há uma explicação, a mesma que faz de mim mentiroso e a ARAE impotente.

Reduflação (ou Shrinkflation) é a "arte" de encolher o produto sem encolher o preço ou, aproveitar uma mudança de imagem, para aumentar o preço e reduzir a quantidade em simultâneo. Os supermercados tornaram-se mestres no "jogo psicológico" do consumo. No caso do papel higiénico ele continua "compacto", mas aumentaram o diâmetro do tubo de cartão central, o rolo parece do mesmo tamanho, mas tem menos voltas de papel. Também noto que diminuíram a gramagem: O papel fica ligeiramente mais fino e pouco importa a conversa do número de folhas. Como ainda tenho dos antigos rolos vejo tudo, também reduziram a folha em milímetros na largura, cortar 5mm em cada folha é impercetível para o utilizador, mas poupa toneladas de papel na produção.

Paralelamente houve "Rebranding" como disfarce, a embalagem está diferente. Mudar a embalagem é a oportunidade perfeita para "limpar" o histórico de preços na mente do consumidor. Limpar o "cadastro". Ao mudar o design, o supermercado interrompe a sua comparação direta com o produto antigo. Grandes artistas.

Não foi o caso, mas noutros produtos, muitas vezes a nova embalagem é desenhada para parecer mais moderna ou "sustentável" (usando menos plástico, por exemplo), o que serve de justificação moral para o preço ser mais alto, mesmo que o conteúdo seja inferior.

Na Madeira, e não só, vivemos o fenómeno do "preço inflacionado para dar desconto". O produto custa 2€, mas passa 80% do tempo em "promoção" a 1,49€. Quando querem subir o preço real, sobem o preço base para 2,50€. O consumidor continua a ver o selo de promoção, mas agora o preço "com desconto" é 1,70€... tenho um produto em mente... ladrões. A perceção de que se está a "poupar" bloqueia a análise crítica sobre o valor real do produto.

As marcas próprias são como os chineses "Copy-Paste" estratégico, eliminam as marcas que zelam pela imagem e a marca própria dá mais margem. Os supermercados usam os dados de vendas das marcas líderes para criar as suas marcas próprias. Colocam a marca própria exatamente ao lado do líder de mercado. Usam cores e tipos de letra semelhantes para confundir o olho. Garantem uma margem de lucro muito maior na marca própria do que na marca de fabricante, mesmo vendendo-a mais barato, porque controlam toda a cadeia de distribuição e não gastam em publicidade. E, depois, a de marca vai desaparecendo, a que tem a honra de manter os seu produto sempre igual. As marcas já estão em guerra com as linhas brancas por isso.

O grande problema é que, legalmente, a reduflação não é crime, desde que o peso líquido indicado na embalagem corresponda à realidade, o problema é o entretenimento que criam à volta, parecem os nossos governantes na imprensa. Se o rolo diz que tem 20 metros e tem mesmo 20 metros, as autoridades de fiscalização (como a ARAE) pouco podem fazer, porque a comparação com o produto anterior não conta. A lei protege a exatidão da informação, mas não impede que uma empresa decida vender menos por mais dinheiro. É considerado "liberdade de mercado".