80% dos munícipes começam a subsidiar a água dos campos de golfe.


A fatura média da água sobe para a generalidade dos munícipes, cerca de 80%, segundo a própria autarquia, mas continua a haver água “especial” para usos especiais. Não se poupa para manter o preço, gasta-se em megalomanias para estrangeiros/turistas e aumenta-se o preço às famílias funchalenses para que elas cortem no consumo para haver água para o lazer.

Enquanto as famílias pagam mais 46 cêntimos por mês por um bem essencial à vida, os campos de golfe mantêm acesso a água mais barata, em volumes incomparavelmente superiores e para um uso claramente não essencial. Não se houve aumento do preço para castigar o supérfluo como castigam o uso necessário às famílias

Tudo isto acontece num contexto de alterações climáticas, escassez hídrica crescente e pressão cada vez maior sobre os recursos naturais. Fala-se de sustentabilidade, de eficiência, de modernização das redes e de combate às perdas, mas o modelo de consumo intensivo de água para fins recreativos de luxo permanece intocado, piscinas e golfe. A adaptação climática começa sempre pelos mais fracos e termina, convenientemente, antes de tocar nos mais fortes.

Não se trata de demonizar o turismo nem o golfe em abstrato. Trata-se de reconhecer que a água é um bem comum, finito e cada vez mais escasso, e que a sua gestão deveria refletir prioridades ambientais e sociais claras. Num território cada vez mais vulnerável à seca, subsidiar implicitamente grandes consumidores hídricos é um contrassenso ecológico e um erro político.

Quando se pede contenção às famílias, mas se garante previsibilidade e baixos custos a usos intensivos e ambientalmente discutíveis, o discurso climático revela-se mais retórico do que transformador. A transição ecológica não pode ser feita à custa de quem consome o mínimo indispensável, enquanto se protege quem consome o máximo supérfluo.

Quando a água para beber, cozinhar e viver encarece, mas a água para manter relvados verdes continua barata, a mensagem é inequívoca: também na crise climática há cidadãos de primeira e de segunda. E, como sempre, os de segunda são os que pagam a fatura inteira.

Tenham em atenção que vemos a insustentabilidade dos carros, do lixo, das ETARs a despejar sem tratar, dos preços, mas o consumo de água potável é algo mais silencioso, está ao nível dos outros que são evidentes, não tenham dúvida que o aumento do preços é para haver para o lúdico. Incrível!

A última vez que a Câmara Municipal do Funchal aumentou os preços da água foi em janeiro de 2024, quando aprovou uma atualização geral das taxas municipais (incluindo água, saneamento e resíduos sólidos) com um aumento de cerca de 5,79%, refletindo a variação média da inflação e traduzindo-se num acréscimo de aproximadamente 1,48 € por mês para um consumidor doméstico típico (cerca de 10 m³/mês). 

Antes disso, houve aumento também para 2023, com atualização do tarifário em 4,04% aprovada no final de 2022 para vigorar em 2023. 

Registos mais antigos mostram que também em 2021 a tarifa foi atualizada em cerca de 0,52% com efeitos a partir de 2022. 

Em 2025, notícias indicam que houve proposta de aumento de cerca de 3,27% para 2025 tarifários, aprovada em dezembro de 2024. 

Ou seja, nos últimos anos a água no Funchal tem vindo a ter ajustes quase anuais, apesar da autarquia por vezes tentar mitigar ou suavizar os impactos nos consumidores. Agora vão ver em que mandatos conferem.

Os fanáticos que não me venham com o valor, toda a gente paga e soma, mais do que o total da água de rega que teve um aumento "pornográfico".