E stava o vigário da Sé a recolher azevinho para a coroa do advento, quando um jornalista do DN-Madeira lhe perguntou sobre relíquias. Diz ele que não queria falar, mas falou. A meio da conversa, como é seu hábito de clérigo de púlpito, atirou umas indiretas a um seu irmão na Religião, o incómodo vigário de São Roque. Logo desancou sem dó nem piedade, com aquele seu ar mefistofélico, sobre a fé e a atividade pastoral do seu irmão Rodrigues.
Não disse o cónego se foi apanhar azevinho com as suas vestes regimentais, mas uma vizinha camacheira informou-me que ele ia de preto. Ela afiançou que assim o tinha avistado, quando, de repente, ele entrou pela sua casa a pedir alecrim, pois achava que tinham muita inveja dele.
A minha amiga camacheira, porque não tinha alecrim, ofereceu-lhe, com aquela hospitalidade característica das gentes daquele sítio, uma canjinha quente, que o cónego devorou num trago. Mas parecendo não ter ficado satisfeito e consolado, após ter sido atacado pela inveja clerical, pediu-lhe, sem vergonha, uma perninha ou uma coxinha do frango, para matar a roeza, que ainda sentia.
Um tanto envergonhada, a camacheira explicou que febra já não tinha, seu marido havia comido ao almoço, agora só sobrava uns ossinhos e o caldo. Não se fazendo rogado, lá o cónego os aceitou e foi trincando, enquanto louvava as relíquias da sua Sé, juntamente com aquelas santas devoções venezuelanas, que faziam cair mais uns troquinhos na caixinha das luminárias. E, de repente, se lhe fez luz: afinal era o dinheirinho que também caía nas relíquias que despertava a inveja. Se assim era, fizessem como ele, tratava da sua Sé à sua maneira, e agora, alas que se faz tarde: “Vou mas é à Agriloja comprar um bom vaso de alecrim para colocar na Sé e com jeito ainda trago um outro para o meu quarto de dormir, não vá o diabo invejoso lá entrar e me atacar.”
Sejam felizes (e cuidado com ossos neste Natal), rematou o cónego com aquele sorriso angelical, quando se despediu apressadamente das camacheiras.
E não deixem de rir, digo eu, que também vos quero com ar feliz.
Enviado por Denúncia Anónima.
Sexta-feira, 25 de Novembro de 2022
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