O canal 2 da RTP passou ontem (17-04-2023) a “Visita Guiada” dedicada à ilha de São Tiago do arquipélago de Cabo Verde. Curiosamente, falando de cultura agrícolas de trabalho escravo, a reportagem mostra-nos imagens da cana sacarina e da banana, referindo uma sociedade escravocrata. Tal como em Cabo Verde estas produções na nossa terra também assumem contornos de escravatura.
Há décadas atrás, a produção da aguardente e do açúcar estava na mão das famílias inglesas. O engenho do Hinton, entre outros, marcou o quotidiano da cidade, nomeadamente da freguesia de Santa Luzia. Trabalho duro marcado pelo ritmo imposto pelos capatazes, que vergavam o madeirense aos desígnios de um negócio que só era doce para os donos dos engenhos.
Atualmente a situação pouco se alterou. O produtor da cana sacarina vê a sua matéria prima transformada em produtos de elevado valor acrescentado, nomeadamente o mel de cana e o rico Rum agrícola da Madeira. O seu rendimento não reflete a valorização da matéria prima. Hoje, como antigamente, paga-se uma “esmola” ao produtor (0,34 €/kilo) e transforma-se em “ouro” a sua transformação. O produtor olha para as suas mãos, cortadas pela folha da cana, calejada pelo trabalho duro de fazer crescer as canas e pergunta-se – Será que não merecíamos mais pelo nosso trabalho?
Recentemente o presidente do Governo Regional referia que o Rum agrícola madeirense é das bebidas alcoólicas mais caras do mundo, enaltecendo-lhe a qualidade e aceitação mundial deste produto impar. O produtor ouve estas declarações e pensa – esta gente goza com a nossa cara!
Vai acontecer com a cana sacarina o que já vem acontecendo com o Bordado Madeira. Já escasseiam as bordadeiras, já escasseiam os produtores de cana. Por falta de interessados em manter esta produção que não garante sustento, face aos custos de produção e valor pago pela industria, a cana sacarina vai desaparecer da paisagem agrícola regional. Uma produção que poderia ser sustentável, tanto para produtores como industriais, vai desaparecer porque o que se paga à produção não compensa.
Pode o Governo Regional esbracejar o que quiser, a abordagem politica a esta produção está sempre do lado dos engenhos. Inverter esta tendência requer um esforço das entidades governativas e dos próprios engenhos que transformam a cana sacarina, porque da parte dos produtores, estes já se encontram à beira do abandono da produção, por considerarem que na situação atual, a mesma já não compensa financeiramente.
Enviado por Denúncia Anónima.
Terça feira, 18 de Abril de 2023
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