Veneza a desaparecer?
E ste texto é um extrato de um artigo de Cathy Newman, publicado na revista National Geographic Portugal a 14 de Novembro de 2019. Convite para reflexão: quantos anos separam a Madeira desta dramática realidade veneziana?
«E lá se vão embora os venezianos. O turismo não é o único factor que contribui para a aceleração do êxodo, mas uma pergunta paira no ar: quem será o último veneziano a ficar na cidade?
Veneza desempenha um duplo papel. Existe Veneza, a cidade onde vivem pessoas locais, e Veneza, a cidade visitada pelos turistas.
E ainda há o custo de vida. Só os ricos ou os idosos, que herdaram as casas onde vivem, podem cá viver. Os jovens? Não têm dinheiro que chegue.”
O declínio é inexorável. Só no ano passado a população perdeu 444 habitantes. “Tudo se vende”, suspira. “Até Veneza”.
“A cidade é consumida pelo turismo”, diz Augusto Salvadori (funcionário responsável pela gestão dos danos causados pela presença de tantos turistas na cidade). “E o que recebem os venezianos em troca?” Franze o sobrolho.
“A pressão sobre os serviços é tremenda. Durante parte do ano, os venezianos nem à cotovelada conseguem entrar nos transportes públicos. O custo da recolha de lixo aumenta: o custo de vida também”. É evidente que aumentam, sobretudo no que se refere à propriedade de habitação. Em 1999, uma lei que afrouxou os regulamentos referentes à conversão de edifícios residenciais em instalações turísticas exacerbou a escassez de habitação. Entretanto, o número de hotéis e estalagens aumentou 600% a partir de 1999. Há vida em Veneza, mas o envelhecimento da população, a quebra da natalidade e o êxodo das famílias para áreas menos dispendiosas reduziram o número de residentes de 150 mil para 60 mil em cinco décadas.
No mercado de Rialto, os vendedores de recordações substituíram os comerciantes de salsichas, pão e legumes. Os turistas nem reparam. Não visitam Veneza para comprar beringelas.
Alguns sugerem que os males de Veneza são (…) sequelas de um impulso no sentido de espremer o turismo até ao último euro, iene ou dólar. “Eles não querem os turistas, mas querem o dinheiro deles”, observa um antigo morador. “Os turistas americanos são os melhores. Gastam. Os europeus de Leste trazem consigo comida e água. Quando muito, compram uma gôndola de plástico”.
Ouvem-se conversas sobre limites ao número de turistas, impostos sobre os turistas ou até súplicas para que evitem as épocas de Páscoa e Carnaval, mas o turismo – entretecido com a perda de população residente, complicado pelo poder dos hoteleiros, gondoleiros e condutores de táxis aquáticos, que têm todo o interesse em maximizar o influxo de turistas – desafia quaisquer soluções simples.
Os sonhos desvanecem-se e, por vezes, as cidades também. Ansiamos por um final perfeito, mas o pano cai.
Enviado por Denúncia Anónima.
Terça feira, 18 de Abril de 2023
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