Aos Contratantes de Artistas


Caros Contratantes de Artistas,

E screvo-vos para vos fazer alguns pedidos. Se algum deles vos parecer pouco sensato ou descabido, por favor digam. Podemos sempre negociar. Às vezes o meu cérebro de artista vê as coisas de forma pouco realista. Sei lá, megalómana. Pode acontecer.

Assim sendo, se fosse possível, gostaria de pedir o seguinte:

1 - quando um artista/ agente vos contactar (seja por e-mail, por mensagem, por telefone, etc), por favor respondam. No próprio dia, no dia seguinte, na semana seguinte, mas respondam. Ao menos acusem a recepção do contacto. Se puderem (e se quiserem) marquem uma reunião. Ou peçam para alguém marcar uma reunião. Ou digam que sim ou que não. Mas, por favor, não ignorem quem trabalha. É apenas uma questão de educação;

2 - quando acharem (sabe-se lá porquê) que o trabalho de um artista é caro, sejam educados a dizê-lo. Não comparem com o cachet de outros artistas. E não desconsiderem quem se valoriza. Digam que não têm orçamento. Que não podem pagar. Que não estavam à espera de um valor tão alto. Que estão à procura de algo mais barato. Não há mal nenhum em ser franco, sem ser desagradável;

3 - quando chegar a altura de fazer o pagamento, não deixem os artistas à espera 15, 30, 60, 90 dias, 1 ano ou eternamente. Paguem no próprio dia, por transferência bancária, mediante entrega prévia de recibo ou factura. Para facilitar as coisas, podem até fazer como fazem como os artistas chamados “cabeças de cartaz”: metade quando é confirmada a data e o restante até a hora do artista subir ao palco. Assim tratam todos por igual e toda a gente agradece. Ainda tenho dificuldade em perceber esta diferença de tratamento: o “Artista Nacional” recebe antes de tocar. Os “outros” tocam e esperam (mais ou menos tempo) para receber. É estranho. Estranho porque, se se pode pagar antes a uns, porque não uniformizar o procedimento para todos? Acreditem que ganhariam o respeito de todos;

4 - quando um artista/ agente vos mandar um rider técnico, leiam-no e respondam. Por norma, a ausência de resposta significa que o mesmo foi aceite. E depois, também por norma, há constrangimentos. Porque, ao longo do processo, alguém vai ignorar o rider. E, no dia do teste de som, faltarão coisas. E, quando o artista reclamar, é porque está “armado em artista”. Eu explico: quando um artista envia um rider técnico, é porque, precisa de tudo o que pede nesse rider. Não é porque lhe apetece nem porque quer dar trabalho às pessoas. É porque, para realizar o espectáculo que concebeu, precisa das coisas que pediu. Por favor forneçam-nas. Não digam “ele vai tocar com o que houver”. Só enriquecem os espectáculos. E contribuem para o sucesso de todos, incluindo o vosso;

5 - quando um artista pedir 4 lugares de estacionamento o mais próximo do palco possível, não respondam “só podemos dar um lugar por banda”. Ninguém pede lugares de estacionamento próximos do palco por ser preguiçoso ou porque sim. Pedem porque normalmente os artistas levam backline consigo (instrumentos, tripés, cabos, malas), para usar no concerto. Por norma são peças pesadas e volumosas (umas mais do que outras). Assim sendo, como vão carregar coisas, pedem que lhes facilitem a vida. Dar só um lugar de estacionamento é a mesma coisa que nada. A maior parte das bandas não tem uma carrinha que leve músicos e equipamento. Assim sendo, cada um pega no seu carro, com o seu equipamento, e leva para o local do concerto. Se quiserem dizer que há falta de espaço, acredito que haja. Mas então, talvez esteja na altura de resolver esse problema sem ter de mandar quem trabalha estacionar a um quilómetro do palco;

6 - quando um artista/ agente vos pedir jantar, pede-o por um de dois motivos:

  • ou a equipa tem de ir mais cedo para montagem e teste de som e, devido à distância entre o local do concerto e a residência dos membros da banda, não é viável (nem aconselhável) regressar a casa para jantar;
  • ou a equipa tem de chegar muito mais cedo ao recinto por, a partir de uma certa hora, ser impossível estacionar.

Mais uma vez, sugiro que se aja com todos os artistas da mesma maneira que se age com os “cabeças de cartaz”. De certeza que a “banda muito conhecida X” não paga o seu jantar. Nem o seu almoço. Nem o seu pequeno-almoço do dia seguinte. 

O que solicitamos é apenas o jantar do dia do concerto, quando se aplicar uma das situações descritas acima. Mais nada. 

Já agora: dizer que “só dão jantar a bandas que tocam sem cachet” é vergonhoso. Por dois motivos:

  • de certeza que o “banda muito conhecida X” não vai tocar gratuitamente. Mas tem direito a jantar na mesma;
  • haver bandas que tocam gratuitamente é, só por si, vergonhoso. Todo o trabalho deve ser pago.

7 - quando o artista pedir um camarim para mudar de roupa, com cadeiras, uma mesa e um espelho de corpo inteiro, por favor arranjem um espaço para esse efeito. Não é necessário uma coisa luxuosa. Basta ser limpa e ter privacidade, para evitar que as pessoas tenham de mudar de roupa na casa de banho, no carro ou nas bananeiras;

8 - quando um artista vos pedir águas à temperatura ambiente, forneçam-nas. Além de ser do mais básico que existe, ajudam imenso a aguentar (por vezes) horas de montagens, esperas e testes de som. Para cantores então, nem se fala. 

Se não as puderem fornecer, também não faz mal. Mas avisem. Assim o artista compra-as no supermercado em vez de ter de comprá-las no recinto da festa a preços inflacionados;

9 - por favor, tratem bem todas as pessoas. Tratem bem todos os artistas. Não tratem menos bem os artistas regionais, só porque não são tão conhecidos. Acreditem que muitos deles trabalham muito para conceberem, prepararem e ensaiarem os concertos que depois vão tocar nas vossas festas. Tratem-nos bem por princípio, não por obrigação. Um artista descontente faz o seu trabalho. Um artista, quando é bem tratado, deixa tudo no palco. Tudo!

Se não acreditam, façam um exercício comigo: substituam a palavra “artista” por outra profissão qualquer. E a palavra “palco” por outro local de trabalho qualquer. Verão que tenho razão.

Enviado por Denúncia Anónima.
Quinta-feira, 8 de Junho de 2023
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