O Jogo do Bicho é uma das peculiaridades madeirenses que muito aprecio: é proibido, mas toda a gente, do mais miúdo ao mais graúdo, sabe onde e como apostar e muitos sabem de cor a correspondência dos números com os bichos que dão nome ao jogo. Confesso que também já apostei, muito de quando em vez, nalgum bicho que me acorreu e sei quem é o “agente” que recebe a aposta e paga, escrupulosamente, se a mesma (raramente) me foi favorável. Se disserem que o disse, eu nego e não sei de nada; e é assim que funciona o Jogo do Bicho na Madeira. Desde que seja discreto, todos sabem que existe, mas ninguém sabe quem o põe a funcionar. Uma vez por outra, há um “bicheiro” que facilita na dissimulação e há um agente da autoridade que, para mostrar serviço, o apanha em flagrante. Lá vai o rendimento da semana ou do mês, do incauto, e mais ninguém fica muito “pisado”(para usar a antiga expressão madeirense aplicável aos danos menores”).
No folclore regional do Jogo do Bicho, o “palpite” tem muitas vezes que ver com a época do ano. Um “bicho” que é muito popular no início de dezembro costuma ser o “porco”, coincidindo com a época tradicional da matança dos ditos animais; muitas vezes a relação faz-se entre o número e o “bicho” correspondente. Por exemplo, se o Carnaval calhar entre os dias 13 a 16 de Fevereiro, há muito quem jogue na “borboleta”.
O 31, número correspondente ao fim do ano, significa, nesta linguagem dos bicheiros e do seu extrincado sistema de palpites e apostas, ao “camelo”. Animal exótico que é, no imaginário comum, associado ao costume de reservar grandes quantidades de água para posterior consumo quando atravessa o deserto.
Quem, parando para pensar um pouco no ano transacto e no ano a seguir, quisesse seguir um palpite simplório de apostar em obter grandes quantidades a partir do que conseguiu amealhar no passado próximo, apostaria no “camelo”.
Parece que foi esse o raciocínio dos dirigentes da Iniciativa Liberal- Madeira: se obtive, recentemente, um lugar na ALRAM, para tentar chegar ao objetivo (digamos que, à partida, improvável) de chegar ao Parlamento Nacional vou apostar num “camelo”! Pela simples razão de que estamos a chegar a chegar ao dia 31; ora “31 é camelo, ‘bora aí”!
Sucede que esta aposta está mais do que comprometida com todos os sistemas e esquemas do poder regional: O Camelo escolhido serve-a, mediante contrato, em diversos departamentos e institutos públicos; publica, periodicamente, escritos na imprensa regional nos quais, sabujamente, louva os feitos da governação regional; não acrescenta absolutamente nada àquilo que, uma oposição decididamente liberal ao socialismo alaranjado que domina a nossa Região, deveria apresentar!
É, por outro lado, um flagrante erro de marketing: mais um arribado a “arrotar poscas de pescada”, à frente da lista regional para a Assembleia da República é um argumento extra para a xenofobia do PSD-Madeira e a promoção idiótica do “povo superior”!
Acresce, para finalizar, o simples facto, que deveria ser decisivo, de que o dito cujo, para além de um duvidoso punhado de votos eventualmente adquiridos pelos lados da ACIF, vale pouco mais do que zero em qualquer critério eleitoral. Não obstante as insignificâncias que debita, uma vez por mês, no Diário de Notícias, ninguém, nem sequer entre os quadros técnicos e a classe média que não está prisioneira do PSD-CDS, lhe reconhece qualquer capacidade para ser representante desta Região no Parlamento Nacional ou em qualquer outro lugar. Eleitoralmente, não existe!
E eu, que, nos últimos atos eleitorais tenho votado Liberal, vou ver-me, mais uma vez forçado a outra opção! Com a certeza que, no dia 10 de março, não dará no “Camelo”!
Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 18 de Dezembro de 2023
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