M iguel Albuquerque quer mais um campo de golfe na Madeira. Numa ilha com 245 mil habitantes, campos de golfe que não funcionam em pleno e mais de um milhão de turistas por ano. Tudo isto num território onde, em pleno século XXI, ainda há pessoas — residentes e turistas — que não têm sistemas de saneamento básico dignos para onde enviar, de forma ambientalmente limpa, aquilo que todos produzimos diariamente: excrementos.
Mas prioridades são prioridades. Antes de resolver redes de esgotos insuficientes, ETAR sobrecarregadas ou descargas que continuam a ir parar ao mar, a ribeiras e ao subsolo, a urgência é garantir mais hectares de relva verde, regada religiosamente, para um turismo de nicho que pouco ou nada resolve dos problemas estruturais da Região.
Uma ilha que se promove como destino sustentável, natureza premium e exemplo ambiental, mas onde a gestão dos resíduos humanos continua a ser um tema incómodo, empurrado para debaixo do tapete ou, neste caso, para dentro da terra e do oceano. Enquanto isso, planeia-se mais um campo de golfe, uma das atividades mais intensivas em consumo de água e manutenção, como se os recursos fossem infinitos e o território elástico.
Talvez faça sentido. Afinal, relva bem aparada vê-se nas fotografias promocionais; esgotos eficientes não dão votos nem rendem inaugurações. Resolver saneamento básico é obra invisível, não permite discursos pomposos nem selfies com investidores. Já um campo de golfe permite vender a ilusão de progresso, mesmo que por baixo da superfície continue tudo a cheirar mal.
No fundo, esta decisão resume bem a imprudência política instalada, apostar em luxo supérfluo quando falta o essencial. Na Madeira de Miguel Albuquerque, joga-se golfe em tapetes verdes enquanto se fecha os olhos ao facto de que, para demasiadas pessoas, o problema mais básico — para onde vai a porcaria, continua sem resposta séria.
Miguel de Sousa, estás velho. Porque não te calas de vez. Sai de cena com a pouca dignidade que ainda te resta
