O cinismo político e os interesses económicos cruzam-se para moldar as próximas Presidenciais. Luís Marques Mendes, o "comentador-mor" e estratega de bastidores, está a alimentar André Ventura, não é uma ironia, mas a realidade do afunilamento do xadrez eleitoral. A lógica deste erro e desta estratégia assenta na eliminação de alternativas moderadas para forçar uma polarização conveniente.
Com esta situação assiste-se à erosão das alternativas, Gouveia e Melo e Seguro. A queda ou o desgaste da imagem do Almirante retira do baralho a figura do "salvador da pátria" institucional. Sem o militar, o voto de ordem fica órfão. A falta de união no PS em torno de Seguro (considerada por muitos como um erro histórico de sobrevivência do aparelho atual) deixa a esquerda sem um candidato de consenso capaz de travar derivas populistas.
Moral da história, ao "secar" o centro, Marques Mendes sabe que o eleitorado descontente não tem para onde olhar senão para o candidato anti-sistema, ou não sabe? E Marques Mendes acha que a sua costela esquemática foi apagada por doses cavalares de presença nas TVs? A mesma estratégia de Marcelo? Pode parecer contra-intuitivo, mas alimentar o "monstro" do sistema serve dois propósitos para um estratega do PSD. A polarização útil! Ao elevar Ventura, Mendes empurra os moderados para o colo do candidato apoiado pelo PSD, apresentando-se como a única "escolha responsável" contra o caos. O problema é se irritam ainda mais o eleitorado e que este vota Ventura.
Ao dar palco e relevância ao Chega, Mendes mantém a direita sob uma tensão que ele próprio, como comentador e influenciador, conseguiu gerir e interpretarem muitos domingos à noite, fazendo a sua cama, fez o controlo do narrativo.
Repararam no pormenor do eixo Quinta Vigia – Zona Franca? Albuquerque recebe em exclusividade Marques Mendes na Quinta Vigia? Marques Mendes com negócios na Zona Franca da Madeira foi o único recebido por Albuquerque na Quinta Vigia. O governo apoia um candidato, porque a mistura é completa entre PSD e GR, o que prova a promiscuidade. Quanto jeitos deu Mendes ao Albuquerque no comentário político e este encontra-se com o negócio?
A Madeira funciona como o "laboratório" e, ao mesmo tempo, o reduto financeiro desta elite. Se Mendes tem interesses diretos na Zona Franca, a sua sobrevivência política e a proteção desse modelo de negócio dependem de um Governo Regional (GR) amigável.
Albuquerque recebe Mendes como um Chefe de Estado (link) porque Mendes é o garante de que, em Lisboa, a narrativa do Governo Regional será defendida ou, pelo menos, suavizada. O apoio do GR a um candidato como Mendes (ou por ele apadrinhado) é o pagamento desta "segurança" política e jurídica. O facto de Mendes ser o único recebido com tais honras prova que não há separação entre a análise política "isenta" na televisão e os interesses de classe que unem o PSD nacional ao regime da Madeira.
Marques Mendes não combate Ventura, utiliza-o. Ventura é o espantalho necessário para que o sistema (Mendes, Albuquerque, e os interesses da Zona Franca) pareça a única alternativa estável. A "ideia fixa" de não haver fiscalização na Madeira, que escrevi no outro texto enviado (link), estende-se assim a Lisboa, um sistema onde os influenciadores gerem os candidatos e os candidatos protegem os negócios. Faz sentido que esta estratégia de Mendes seja também uma forma de garantir que o próximo Presidente da República não "levante o tapete" dos negócios da Zona Franca?
