Dengue na Madeira: febre, mosquitos e um silêncio ensurdecedor.


E ra uma vez, na sempre encantadora ilha da Madeira, dois amigos que decidiram adicionar um toque de aventura às suas vidas. Praia? Passeios pela serra? Nada disso! Optaram por algo mais exótico: a dengue. Porque, afinal, quem precisa de cocktails tropicais quando se pode ter febre alta e dores no corpo incluídas no pacote turístico?

Começou com uns arrepios, provavelmente o ar-condicionado, pensaram. Depois veio a febre, que culparam por um possível exagero no bolo de mel. Mas quando as dores no corpo os deixaram com a agilidade de uma estátua e apareceram umas manchinhas suspeitas, lá se dirigiram ao centro de saúde. Foram recebidos com a habitual simpatia madeirense: um aceno vago e uma recomendação rápida para tomarem paracetamol e beberem muita água. “Coisa simples, deve passar”, dava para ler no ar. Quando sugeriram, com alguma insistência, que poderia ser dengue, ouviram um riso abafado e aquele tom de voz paternalista que diz tudo sem dizer nada: “Dengue? Aqui? Isso são coisas do Brasil! Aqui só temos turistas de sandálias e meias.”

Enquanto um delirava com 40 graus de febre e o outro já começava a rever mentalmente o testamento, a saúde pública seguia firme no seu papel de espectadora silenciosa. Campanhas de sensibilização? Zero. Informação nos centros de saúde? Nada. A comunicação oficial parecia mais interessada em partilhar fotos de flores, encostas verdejantes e, claro, a tradicional poncha. Se calhar, quem sabe, a poncha até cura a dengue, pelo menos os sintomas ficam mais animados.

Os mosquitos, esses sim eficientes, faziam o seu trabalho com uma dedicação que até merecia reconhecimento. Voavam de pessoa em pessoa com mais eficácia do que muitos serviços de entregas expresso, quase como se tivessem frequentado um curso intensivo em logística.

No final, os dois amigos recuperaram, graças à força de vontade, muita água e, provavelmente, ao sistema imunológico que decidiu fazer horas extra. Voltaram para casa com um bronze invejável e um souvenir que não vinha nas lojas de recordações: uma história para contar nos jantares de amigos. "Foste à Madeira? Que trouxeste?" perguntavam-lhes. E eles, com um sorriso irónico: "Uma pulseira, umas fotos... e dengue! E olha que bronzeei-me enquanto suava em febre."

E assim segue a ilha, bela e acolhedora, com mosquitos empreendedores, turistas distraídos e uma saúde pública que, com sorte, acordará a tempo de perceber que o silêncio também pica.

Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
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