Desinformação? A Universidade da Madeira trata disso. Com orgulho e cartaz.

É preciso ter lata. Ou descaramento. Ou, no mínimo, um sentido de humor tão refinado que passa por seriedade. A Universidade da Madeira resolveu organizar uma conferência sobre desinformação, e só por isso, o universo devia parar por um momento e rir. Alto. Descontroladamente. Porque a piada escreve-se sozinha.

Numa instituição onde a transparência é tão opaca como os concursos públicos que ninguém questiona, onde a coerência académica foi substituída por jogos de bastidores e convites entre amigos, eis que surge uma nobre missão: salvar o mundo da mentira. Da manipulação. Da perversão da verdade.

E quem melhor para guiar essa cruzada do que um habitué do circuito do “falatório académico”, mestre em ocupar espaços, mesmo quando o conteúdo mal preenche um parágrafo coerente? S. M., sempre pronto a ser cabeça de cartaz, mesmo quando o cartaz diz mais sobre a universidade do que sobre ele. Porque isto já nem é sobre o convidado. É sobre o convite. Sobre a necessidade desesperada da UMa de parecer relevante, de mascarar a estagnação com eventos reluzentes, de fazer barulho para não se ouvir o silêncio desconfortável da sua própria irrelevância.

Fala-se de desinformação como se o problema estivesse lá fora. Na política, nos media, no “outro”. Mas não se olha para dentro. Não se questiona o que significa organizar uma conferência sobre verdade num lugar onde tantas vezes ela é a primeira a ser sacrificada em nome do compadrio, da vaidade, da manutenção de pequenos poderes.

Este evento não combate a desinformação. Celebra-a. É um monumento à inconsistência, uma encenação em três atos: fingimos que sabemos, fingimos que nos importamos, fingimos que somos sérios. Uma universidade que se quer “centro de pensamento” e se comporta como agência de eventos. Tão empenhada em parecer moderna e crítica, que não repara no ridículo de promover uma reflexão sobre a verdade enquanto perpetua, dentro de portas, a cultura do faz-de-conta.

No fim, a verdadeira desinformação não está no tema da conferência. Está na ideia de que este tipo de iniciativas servem para alguma coisa. A não ser, claro, para alimentar egos, acumular certificados de presença e gerar selfies com hashtags tipo #pensamentoCrítico enquanto o pensamento verdadeiro morre lentamente numa sala ao lado, abandonado entre duas aulas que ninguém quis dar.

Parabéns, UMa. Não organizaste uma conferência. Organizaste uma alegoria. Uma paródia da própria universidade.

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