Grândola na boca errada


C ada vez mais, alguns brincam com os valores para a sua conveniência, também decidiram estragar os valores de abril com a sua presença? Jardim a cantar Grândola Vila Morena! Mostra uma grande mudança de postura ou, no mínimo, uma mudança de conveniência.

Durante o tempo em que Alberto João Jardim foi presidente do governo regional da Madeira (1978–2015), este tinha uma relação bastante tensa com o 25 de Abril, principalmente porque via o poder central de Lisboa como opressor da autonomia madeirense, mesmo depois da Revolução. O distanciamento dele dos símbolos tradicionais da Revolução, Grândola Vila Morena, fazia parte desse posicionamento político. Quantas vezes os festejos eram boicotados de alguma maneira até menos diplomática?

Vê-lo a cantar Grândola pode ser interpretado de várias maneiras, como uma tentativa de reaproximação simbólica com ideais populares, como reconhecimento tardio da importância histórica do 25 de Abril, ou como uma ação oportunista, aproveitando o ambiente atual onde a defesa da democracia e dos valores do 25 de Abril voltou a estar mais na linha da frente, especialmente em tempos de crescimento de movimentos mais autoritários.

Depende do olhar de quem vê, para uns é evolução, para outros é incoerência, ou até hipocrisia.

Talvez quem, tendo estudado ação psicológica, evitou celebrar o 25 de Abril durante décadas, e hoje entoa o Grândola nos estertores da vida, não esteja a mudar de convicções, mas apenas a lavar a consciência, numa última operação de cosmética moral, como quem escreve calhamaços de revisionismo financeiro.

Quem soube tão bem a arte da ação psicológica que durante anos desprezou o 25 de Abril, e agora canta Grândola no epílogo da sua história, talvez esteja apenas a ensaiar a última manobra: limpar os pecados com a voz embargada e a memória curta.

Abril é de todos, mas não gozem comigo. Grândola na boca de Jardim é como dizer que a Madeira não tem dívidas.

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1 Comentários

  1. Grândola Vila Bocarra / terra de impunidade / o Jardim faz algazarra / e o Povo é covarde.

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