Natação: o novo sacramento da redenção política


D izem que a água lava tudo. Sujidade, pecados, e quem diria, até a má consciência de alguns governantes. Que bela descoberta fez Miguel Albuquerque, o nosso ilustre nadador de ocasião. Há quem vá à missa, quem faça retiros espirituais, quem se confesse. Mas não, ele mergulha. Porque nadar, meus caros, é o novo caminho para a absolvição dos pecados político-financeiros.

Enquanto o povo anda a contar trocos para pagar o leite e o pão, o nosso presidente regional mergulha em águas cristalinas de consciência tranquila, possivelmente mais limpa do que as contas públicas que gere. Nadar com treinador pessoal, imagine-se! Um luxo? Que ideia. É uma necessidade espiritual. Afinal, não é fácil carregar às costas a ingrata tarefa de gerir milhões, especialmente quando uma parte parece, alegadamente, ter-se desviado com destino incerto (ou tão certo que até ofende).

Mas sejamos justos. Quem nunca pensou: “Hoje apetece-me desviar uns fundos públicos e depois fazer uns estilos mariposa para aliviar o stress”? É um estilo de vida aquático, claro.

E enquanto os madeirenses enfrentam filas nos centros de saúde, escolas com infiltrações e estradas a cair aos bocados, madeirenses que morrem de derrocadas, Miguel nada. Nada bem, dizem. Com técnica. Com estilo. Porque se for para lavar a alma, que seja com treinador, fato de banho novo e talvez umas braçadas sincronizadas com a moralidade dúbia.

Afinal, o importante não é a justiça ou a ética, é a boa forma física. E se a consciência pesar, nada como um bom mergulho para afundar a culpa até ao fundo do mar da impunidade.

É o Atlante madeirense, Miguel Albuquerque, o político-anfíbio que trocou a transparência dos orçamentos pela das piscinas municipais. E não é uma qualquer, atenção. Estamos a falar de natação com treinador pessoal, que isto de purificar a alma exige técnica, disciplina… e, claro, um bom cronómetro suíço pago por quem? Pelo contribuinte, pois então. Que é como quem diz: o madeirense que anda a trabalhar de sol a sol para financiar os mergulhos de um alegado messias da corrupção.

Mas calma, não sejam maus. Desviar dinheiros públicos é um fardo pesado, minha gente. Há que descarregar a culpa com umas braçadas de costas, que é como muitos políticos andam mesmo, de costas voltadas para a realidade.

E depois dizem que é suspeito. Suspeito porquê? Por querer estar em forma? Por querer ser o Michael Phelps do orçamento regional? Francamente. Os madeirenses é que são mal agradecidos. Em vez de exigirem investigação, deviam era bater palmas nas bancadas enquanto Sua Excelência faz uns 100 metros livres de responsabilidade.

Enquanto isso, as verbas somem-se como cloro em água quente. “Alegadamente”, claro. Palavra mágica que tudo desculpa, tudo purifica, quase tão eficaz quanto a água benta ou o detergente anti-fraude, se existisse.

E aqui estamos nós, Madeira, terra de sol, poncha e políticos à prova de escândalo. Um arquipélago onde a consciência se lava com água e as mãos, aparentemente, com dinheiro público.

Portanto, deixem o homem nadar. Pode ser que numa dessas braçadas encontre a decência perdida no fundo da piscina. Mas não se entusiasmem, é provável que ela também esteja alegadamente desviada.

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