3 Salazares e um chá de macela para a senhora da mesa do canto.


O Ventura sabe muito bem que está a provocar. Larga o disparate e fica a ver como as pessoas reagem, dentro da antiquíssima filosofia “marketeira, segundo a qual: “não interessa o que falam, desde que falem de mim!” e vamos todos no engodo, protestando a alarvidade e assinalando a fascistada!

O André sai, de todos os insultos e desaforos (que bem merece), com a pose do antigo marialva que ninguém, no bairro, gramava, mas muitos secretamente invejavam, mais do que pela sabedoria e acertamento, pela pose e pelo atrevimento.

O Ventura, ao contrário do que possam imaginar, não é tolo! Repete, propositadamente, até à exaustão, e com repercussão nacional, o que a populaça mais sanguinolenta, (encabeçados pelos “habituês” da tasca, de camisa aberta até ao umbigo e opinião sempre pronta a saltar entre um “dentinho” e um “penálti”) quer ouvir. Obtém, assim, a atenção dos descontentes. Nenhum português, maior, capaz de entender um texto com mais de dez palavras e consciente da sua história e da sua cidadania, vai na treta dos “Bangladesh”, dos “ciganos” e dos “Salazares que eram precisos, para endireitarem esta m… toda”. Mas muitos o apoiam, (muitos mais do que a alfabetização faria esperar), por via da iliteracia que o descuido generalizado das políticas de educação política promoveu, da vontade de atirar para os que vêm de fora os problemas que já cá estavam e, até, do bizarro desprezo pelos estrangeiros, tanto mais incompreensível, quando o nosso povo, apertado entre os castelhanos e o mar, optou (e bem) por ir por esse mundo fora, procurar novas oportunidades e afirmação. Atrevo-me até, a dizer, que, no meio dos pinguins da Antárctida, há-de estar um português!

É por isso que o André, nunca será presidente da República Portuguesa. E, se eu estiver enganado, o dia da sua tomada de posse, será o dia em que emigrarei, sem retorno, do meu país! Nem que seja porque, com muito orgulho, tenho provas fundadas de que (para além de um tal gene lusitano que uns fascistas desesperados terão encontrado), terei ascendentes berberes, escandinavos, saxões, celtas e, até, indianos, e não quero andar com uma estrela multicolorida no braço.