É curioso como, de repente, a leitura do Evangelho se transformou numa espécie de manual de campanha em Ponta Delgada. O atual Presidente da Junta, que antes mal se via na igreja, surge agora com a esposa a declamar passagens sagradas no altar da Igreja do Senhor Bom Jesus, como se a fé tivesse vindo num pacote com o cargo. Será que continuará tão devoto quando deixar a presidência? Ou será que a santidade tem data de validade... até setembro?
E por falar em Setembro, as eleições autárquicas ainda nem chegaram, mas o Presidente do Clube de Ponta Delgada já se sente eleito para a Junta. Está tão confiante que até parece que o cargo lhe foi prometido por intervenção divina, ou talvez por promessas mais terrenas, como os favores do partido "laranja". Sim, esse mesmo que, ao que parece, compra memórias políticas com a mesma facilidade com que se compra fruta no mercado.
Aliás, este mesmo presidente do Clube, que em tempos abanou bandeiras do Partido Socialista, veste-se agora de "laranja" com orgulho. Uma curiosa mudança de cor... será que o dinheiro tem propriedades cromáticas? A fome pelo poder, e pelo que ele traz, parece fazer milagres: apaga o passado, pinta o presente e manipula o futuro. O arco-íris ideológico passou mesmo por Ponta Delgada, e pelos bolsos de alguns.
Entretanto, o ainda Presidente da Junta de Freguesia, após doze anos de governo estéril, apresenta como principal feito o aumento do seu perímetro abdominal. Diz-se por aí que o dinheiro que deveria ter sido investido na freguesia acabou investido... no estômago do próprio. Porque, claro, o homem tem de comer. Resolver os problemas da freguesia? Só agora, no final do mandato, quando o cheiro a eleições já se sente no ar. Que timing!
Mas não é só ele. O Presidente do Clube de Ponta Delgada, esse clube com um nome sonante mas sem atletas visíveis, também parece mais preocupado com os cargos do que com os campeonatos. Onde estão as equipas? Onde estão os treinos? Talvez estejam todos a fazer estágio noutro planeta — ou no bolso de alguém. E ainda trabalha na ADNORMA, onde se situa a escola agrícola. Caso ganhe as eleições, como vai conciliar os horários? Vai dividir as 24 horas do dia entre freguesia, clube e escola? Uma hora em cada lugar? Ou dorme uma sesta em cada função?
Mais estranha ainda é a relação entre os dois presidentes, o da Junta e o do Clube. Há quem diga que parecem mais personagens de um reality show do que líderes locais. Uma "bromance" política, repleta de sorrisos cúmplices, segredos partilhados e talvez... negócios também.
E apesar de tudo isto, a gestão nula, os fundos desaparecidos, a arrogância política, a inacção descarada, o povo de Ponta Delgada parece gostar. Três mandatos ao mesmo homem que nada fez. Agora, tudo indica que vão eleger outro que também nada faz, mas que se move bem no jogo do poder. Talvez a cor laranja tenha mesmo propriedades hipnóticas.
No fim de contas, Ponta Delgada tornou-se no palco de um teatro pobre, onde se aplaudem protagonistas vazios, se promovem candidatos pela fé fingida e se esquece a história por um prato de promessas. E no meio de tanta encenação, lá estão eles, prontos para mais uma ronda de "serviço público"... com a Bíblia na mão e o bolso estendido.
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