S alários: Que abismo indecente separa o mísero salário do trabalhador português dos vencimentos obscenamente inflacionados da nossa classe política e governativa! Em 2025, o salário mínimo nacional em Portugal vai chafurdar nos 870 euros. Na Madeira, uns míseros 915 euros brutos mensais. Nos Açores, uns escassos 913,50 euros.
Entretanto, o ordenado do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, prepara-se para um salto na ordem dos 650 euros, aterrando nos estratosféricos 11.718,2 euros brutos mensais. O Presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, vai embolsar 9.374,55 euros, um aumento de 525 euros. E o primeiro-ministro, Luís Montenegro, verá a sua conta bancária engordar em 472 euros, fixando-se nos 8.768,65 euros (veja-se o quadro, se o estômago o permitir), segundo as contas nauseabundas do ECO.
E não nos iludamos: estes valores são brutos. Descontando o mordisco do IRS, as contribuições sociais e a fatura da ADSE, estes salários principescos podem encolher para metade, como no caso de Marcelo, que passa de 11.700 euros brutos para uns ainda indecentes 6.000 euros líquidos. Os ministros, esses arautos da austeridade para o povo, verão os seus vencimentos incharem em 427 euros brutos mensais, e os secretários de Estado, em 389 euros, totalizando 7.616,83 euros e 6.779,81 euros ilíquidos, respetivamente. Até os vice-presidentes do Parlamento abocanharão mais 315 euros, elevando os seus ganhos para uns confortáveis 5.231,34 euros brutos mensais. Os deputados, estes representantes do "sacrifício", vão receber 4.185,07 euros – mais 293 euros para o seu pecúlio. E se se dedicarem "exclusivamente" a esta nobre causa, o aumento será ainda mais generoso: 302 euros, elevando a sua "modesta" remuneração para 4.603,58 euros. Tudo isto, enquanto a remuneração bruta média do país se arrasta pelos 1.528 euros mensais. Em média, um professor, pilar da nossa sociedade, pode ambicionar ganhar entre 1.640€ e 3.000€ mensais. Um enfermeiro, herói na linha da frente da saúde, contenta-se com cerca de 1.600 euros por mês.
O vencimento do Presidente da República, no ano passado, fixava-se nos "míseros" 8.193,97 euros brutos mensais. Aplicando a "modesta" actualização da Função Pública de 2,15%, esta remuneração ascende aos 8.370,14 euros, já expurgada do "sacrifício" do corte de 5%. A este valor, acrescem as "modestas" despesas de representação, de 3.348,06 euros, que correspondem a uns singelos 40% do salário base. Juntando estas duas parcelas de "austeridade", o Presidente da República arrecadará uns "parcos" 11.718,2 euros.
O salário do presidente da Assembleia da República, fixado nuns "comedidos" 80% do vencimento do Presidente da República, traduz-se em 6.696,11 euros brutos de vencimento, mais uns "modestos" 2.678,44 euros de despesas de representação, totalizando uns "apertados" 9.374,55 euros ilíquidos. Para além disso, "tem direito" a um abono mensal para despesas de representação no valor de 40% do respetivo vencimento.
No caso do primeiro-ministro, o seu "austero" vencimento equivale a 75% do ordenado base do Presidente da República, resultando num "espartano" ganho mensal bruto de 6.277,61 euros. "Tem ainda direito" a um abono mensal para despesas de representação no valor de 40% do respetivo vencimento, o que corresponde a uns "humildes" 2.491,04 euros. No total, auferirá uns "modestos" 8.768,65 euros ilíquidos mensais.
Quanto aos vencimentos dos ministros, estes exemplos de "contenção", correspondem a 65% do ordenado do Chefe de Estado, traduzindo-se em 5.440,59 euros mensais ilíquidos. A esta parcela, acrescem despesas de representação, correspondentes a 40% da respetiva remuneração: uns "parcos" 2.176,24 euros. Tudo somado, dá um ganho mensal global de uns 'ascéticos' 7.616,83 euros brutos por mês.
Os secretários de Estado, esses abnegados funcionários públicos, recebem 60% do montante atribuído ao Presidente da República, ou seja, 5.022,08 euros. Mais o abono mensal de 35% do respetivo salário, no valor de uns "ínfimos" 1.757,73 euros, estes governantes terão uma remuneração mensal global de uns "modestos" 6.779,81 euros.
O salário definido para 2024 para o governador do Banco de Portugal, esse guardião da nossa economia, ascende aos "modestos" 18.177,18 euros mensais, comparável aos "parcos" 16.997,60 euros que vigoravam em 2020.
Enquanto a esmagadora maioria dos cidadãos portugueses luta diariamente contra dificuldades financeiras que mal lhes permitem sobreviver, debatendo-se com problemas para se manterem e pagarem as contas mais básicas, aqueles que nos "representam" vivem num luxo obsceno, a anos-luz da realidade do povo. E onde estão os protestos? Onde estão as manifestações dos cidadãos contra esta gritante, esta bárbara injustiça? Onde está a fúria que deveria incendiar as ruas perante esta afronta? Será a nossa passividade o combustível que alimenta esta máquina de desigualdade? Será o nosso silêncio a mortalha da nossa própria dignidade?
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