Entre o cemitério e a urna...


... a política em modo “Zombies”

N ada mais simbólico do que uma cena política acontecer em frente ao cemitério de Ponta Delgada, como se fosse um ensaio geral para o enterro de uma candidatura que insiste em não morrer nem viver, uma espécie de zombie eleitoral.

O vídeo, que já corre de telemóvel em telemóvel, mostra uma discussão digna de novela venezuelana: de um lado, Jaime Gomes, antigo candidato da junta pelo PSD de Fernando Góis; do outro, Miguel Freitas, o atual presidente de junta, que as más línguas descrevem como espião infiltrado quando havia duas candidaturas, e ainda José António Garcês, o maestro improvisado desta orquestra sem pauta.

O enredo tem de tudo: traições, espiões, manipulações e até marionetas (a figura de António Gonçalves, oficialmente candidato, mas na prática mais decorativo do que o pinheiro de Natal da praça).

O mais delicioso é o volte-face: depois de levarem “negas” de mais de metade da freguesia — incluindo das pessoas mais simples, das que normalmente aceitam convites políticos em troca de nada mais do que promessas vagas de um churrasco, os estrategas voltam-se para Jaime Gomes. Ironia das ironias: um homem que nem sequer goza de grande simpatia na freguesia passa a ser a “salvação” para fechar a lista.

Tudo isto confirma três verdades:

1. José António Garcês tem tanta empatia política quanto um fiscal de parquímetros num domingo de romaria.

2. A suposta força da candidatura independente — aquela que dizia ter listas fechadas até aos suplentes dos suplentes — era afinal um castelo de cartas montado à pressa, pronto a cair ao primeiro sopro.

3. António Gonçalves, o candidato formal, é apenas o boneco do teatrinho, mexido pelos cordelinhos vindos do Funchal e da dupla Garcês- Humberto Vasconcelos, sem direito a escolher sequer os seus próprios presidentes de junta.

O palco escolhido — o cemitério — não podia ser mais adequado. Entre campas e cruzes, a política vicentina exibe-se como aquilo que realmente é: um processo meio morto-vivo, onde as personagens aparecem e desaparecem ao sabor dos caprichos de bastidores.

Se isto fosse ficção, ninguém acreditava. Mas não é. Vem acrescentar o que o anterior autor chamou de “Candidatura de Schrödinger”, versão Ponta Delgada, que insiste em provar que em política madeirense até os mortos têm direito a voto… ou pelo menos a cenário.

E no dia 12 de outubro, quando os vivos forem às urnas, talvez os fantasmas da lista finalmente encontrem o seu descanso eterno.