P or muito que se goste de flores e clássicos, juntá-los é um claro contrassenso temático, nem mesmo com carros ornamentados com flores. De uma Festa da Flor espera-se a celebração da natureza, das flores, da primavera, da beleza orgânica e efémera. Deve ser um ambiente delicado, artístico, com simbologia ecológica.
Um desfile de carros clássicos representa engenharia e mecânica, nostalgia motorizada, consumo de combustíveis fósseis. É um valor estético e histórico, mas não diretamente ligado ao mundo natural.
Onde está o choque? Temática vs conteúdo, carros (máquinas, metal, motor, poluição) em contraste com flores (vida, natureza, perfume, fragilidade). Apesar das palmas e adesão, é passada uma mensagem contraditória: celebrar o natural com símbolos do artificial e até do impacto ambiental.
Pode haver justificação, se for bem contextualizado, é o que a Secretaria do Turismo tenta, com carros decorados com flores num desfile artístico e simbólico, pode fazer sentido como forma de contraste criativo, mas em abono da verdade, é uma forma de preencher a falta de flores, é que parece que há mais carros do que flores, certamente. Não há banho de flores para os clássicos parecerem estar em segundo plano. Assim perde-se a coerência temática.
Fazendo um esforço, sim, é um contrassenso se não houver uma ligação clara entre os carros clássicos e o espírito da festa. Mas com uma narrativa bem pensada, como tentam, do tipo, o tempo e a memória florescem juntos, pode transformar-se numa justaposição interessante, embora ainda discutível em termos de coerência ecológica.
Os clássicos estão tal como as indumentárias a cobrir o escândalo da Madeira querer se manter como ilha das flores... sem elas, o que impressiona é o amarelo da giesta e da carqueja, porque as hortências nas bermas desapareceram, eram menos festa da flor do que os clássicos? Contradições na nossa terra... hortências na berma da estrada não são infestante, é um ornamento na rede viária. Alguém viu hortências como Giestas e Carqueja no meio da serra? Não! Desafio: que cartaz de flores tem a Madeira para apresentar? O das buganvílias nas ribeiras do Funchal? Das estufas em decadência? Da importação?
O carro tornou-se o principal elemento nas serras da Madeira, símbolo atual do caótico. Precisamos de um político que tenha políticas para esta área, não um economista adaptado a ambientalista e um amante de clássicos a torná-los a flor da terra.
A sorte é que a qualidade do turismo desceu e não compreende... aliás, basta vê-los montados no Fanal ou a canibalizar paisagens, não respeitam a natureza, carros... vai bem.
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